Crise institucional

Bolsonaro defende Allan dos Santos e Daniel Silveira e sobe o tom contra Moraes

Presidente defendeu aliados presos por ordem do ministro do STF e disse que, se os Poderes não se impuserem limites, poderá ocorrer uma nova crise institucional no Brasil

Por Renato Alves
Publicado em 09 de dezembro de 2021 | 14:28
 
 
O presidente Jair Bolsonaro participou de evento alusivo ao Dia Internacional Contra a Corrupção, no Palácio do Planalto Foto: José Cruz/Agência Brasil

Após a trégua que durou dois meses, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez um segundo ataque ao ministro Alexandre de Moraes em menos de 24 horas. Na manhã desta quinta-feira (9), ele defendeu aliados presos por ordem da corte e disse que, se os Poderes não se impuserem limites, poderá ocorrer uma nova crise institucional no Brasil.

“Ou todos nós impomos limites para nós mesmos, ou pode-se ter crise no Brasil. Apesar de a grande mídia me acusar de provocar, agredir, não tem agressão minha. Tô tomando sete tiros de 62 [calibre], quando dou um [tiro] de 62, tô provocando”, disse o presidente, exaltado, durante uma solenidade alusiva ao Dia Internacional contra a Corrupção, no Palácio do Planalto.

A frase foi dita pelo presidente quando ele mencionava o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que está com o decreto de prisão em aberto por morar nos Estados Unidos. A Polícia Federal acusa interferência de integrantes do primeiro escalão do Planalto para dificultar o cumprimento do pedido de extradição contra Allan Santos.  

O pedido de prisão se deu porque o blogueiro driblou decisão de Moraes, de suspender as contas do canal Terça Livre devido ao inquérito das milícias digitais. Ele continuou publicando programas e artigos.

“Nós temos acordos de extradição com alguns países. Podemos mandar presos daqui para lá e eles para cá. Mas está escrito em que casos você pode pedir a extradição ou concedê-la. Aqui se acha agora que qualquer motivo… ‘Me chamou de feio, narigudo, barrigudo’, eu posso pedir a extradição. Não é assim que funciona. Ou impomos limites em nós mesmos, ou pode ter crise no Brasil”, afirmou Bolsonaro, visivelmente nervoso.

Bolsonaro também criticou pesadamente as ordens para prender o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que ficou sete meses detido. 

“Se ele (Silveira) errou, como todos nós podemos errar, jamais a pena seria para isso. Qual o limite para certas pessoas no Brasil? […] O que querem com isso? É o poder?”, disparou Bolsonaro. O foi preso por pregar a destituição de ministros do Supremo e fazer apologia ao AI-5, mais duro instrumento da ditadura militar brasileira (1964-1985).

Alexandre de Moraes determinou, na sexta-feira (3), a abertura de uma nova investigação para apurar a conduta de Bolsonaro por ter feito uma falsa relação, durante uma live, entre a Aids e a vacinação contra a Covid-19. Sem citações nominais, ele sugeriu que, se o ministro suspender seu acesso às redes sociais, estará “extrapolando“.

Na decisão em que autorizou a apuração, Moraes consultou a Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre um pedido da CPI da Covid para retirar Bolsonaro, temporariamente, das plataformas. O órgão ainda não se manifestou.

“A que pontos nós chegamos”, disse. “Será que vão querer bloquear minhas mídias sociais? A mídia social em que mais interajo no mundo? Vão querer quebrar uma perna minha? Isso é democracia? Não é. Isso é jogar fora das quatro linhas [da Constituição]. Ninguém quer jogar fora das quatro linhas. Nós queremos respeito. Mais do que queremos, exigimos. Por favor, não extrapole”, emendou.

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