O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem pressionado acionistas da Vale S.A. para emplacar o Guido Mantega como presidente da maior mineradora do Brasil. Mantega foi ministro da Fazenda de gestões anteriores do PT, entre 2006 e 2015. O Conselho de Administração da empresa vai se reunir na próxima quarta-feira (31) para decidir se Eduardo Bartolomeo segue no cargo de CEO da companhia.
Nesta semana, articuladores do petista aumentaram a pressão para tentar convencer os membros do comitê a apoiarem o nome de Mantega. Caso seja aprovado, ele receberá um salário mensal de cerca de R$ 4,9 milhões. De acordo com conselheiros, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, teria ligado para alguns dos acionistas, em nome de Lula. A informação foi adiantada pelo colunista de O Globo, Lauro Jardim, e confirmada pela reportagem de O TEMPO Brasília.
Silveira chegou a elogiar publicamente Guido Mantega durante participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. “É o ministro mais longevo no cargo de ministro da Fazenda da história da República (...) É alguém extremamente preparado, professor universitário, que reúne todas as condições”, disse.
Entenda sobre o controle da Vale
O controle da Vale é dominado por sócios da iniciativa privada, de forma que nenhum acionista tem 10% dos papéis da companhia. Embora não seja mais acionista há alguns anos, o governo federal tem participação indireta nas ações, por meio da Previ, que é o fundo de pensão de funcionários do Banco do Brasil (BB), que detém 8,7% de participação.
O Conselho de Administração da Vale tem 13 vagas, sendo que a Previ possui dois assentos. O salário de cada integrante do colegiado é de R$ 112 mil. Nesse sentido, o Palácio do Planalto foi informado que o melhor seria o governo indicar Mantega para uma das cadeiras da Previ ao invés da presidência da mineradora.
Hoje, o cargo de CEO é ocupado por Bartolomeo desde 2019. O mandato do atual presidente, que tem duração de três anos, termina em maio.
Relatos dão conta de que o petista enxerga que o ex-ministro da Fazenda foi injustiçado ao ser apontado como pivô da crise econômica do governo Dilma Rousseff (PT), sendo um dos responsáveis pelas chamadas “pedaladas fiscais”. Colocá-lo como CEO da Vale, segundo interlocutores, seria uma forma do petista retribuir a fidelidade do aliado antigo.
Mercado reage mal
Desde que o caso foi revelado, o mercado tem reagido negativamente e as ações da mineradora sofreram desvalorização na Bolsa de Valores. Além de rejeitarem o nome do ex-ministro da Fazenda, investidores interpretam que o governo Lula quer interferir de maneira direta em uma das maiores empresas do país.
Sob reserva, executivos de grandes empresas relatam temer alguma represália. Isso porque o governo federal tem o poder de liberar licenças para exploração de minas e criação de ferrovias envolvidas na logística da atividade minerária, por exemplo.