Entrevista

Homem cria partido inspirado em Hitler em Minas Gerais

Militante de direita, Harryson Almeida Marson começou a se alinhar com o pensamento de Adolf Hitler em 2005

Por Heitor Mazzoco
Publicado em 22 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
Harryson Almeida Marson, fundador do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Brasileiros Reprodução/Facebook

A inspiração para a criação do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Brasileiros (PNSTB) é Adolf Hitler, um dos mais cruéis personagens da história mundial e responsável por levar milhões de judeus à morte. O genocídio na Segunda Guerra Mundial ficou conhecido como Holocausto, mas para o fundador do PNSTB, Harryson Almeida Marson, 29, não passa de um “holoconto”.

Fundada em 2012, em Monte Santo de Minas, no Sul do Estado, a legenda não tem registro no Tribunal Superior Eleitoral, mas conta com apoio de pelo menos 1.900 pessoas, segundo buscas em redes sociais – para Marson, entre apoiadores e militantes, o número chega a 5.000 em todo Brasil. Entre 2015 e 2016, Marson participou de manifestações em favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Pelas redes sociais, é bastante ativo. Em um dos perfis do Facebook, há fotos de Hitler e até uma bandeira brasileira com uma suástica. Apesar das evidências, ele nega fazer apologia ao nazismo, mas prega que a homossexualidade não é correta, chama a defesa das minorias de “conceito medíocre” e, obviamente, inspira-se em Hitler.

Como surgiu a ideia de fundar o PNSTB?

Simplesmente para elevar os valores éticos, morais e econômicos, levando assim à ordem e ao progresso da nação.

O PNSTB é chamado por opositores de nazista, o que é negado no site do partido. Há algum ideal em torno da sigla?

Nosso espectro político baseia-se no nacional-socialismo alemão, e vemos necessidade de um sistema político renovado. Valorizamos cada cidadão brasileiro incluindo sua origem e raça. Não somos um grupo extremista, muito menos fazemos apologia ao nazismo. E também não incitamos preconceito ou ódio entre pessoas, pois qualquer pessoa que desejar pode se tornar um nacional-socialista. Aqui, qualquer um pode se filiar, desde que demonstre seu valor e real interesse para com essa jornada que visa o bem-estar e o sucesso de cada pessoa.

Quando se fala em nacional-socialismo alemão, há relação imediata com o nazismo. Como separar essa ligação para convencer o eleitorado?

Estamos falando do nacional-socialismo brasileiro. Fazemos uso da política, da forma administrativa, e não estou aqui para vingar o Terceiro Reich, mas para trazer o Estado renovado para o nosso país por meio do nacional-socialismo. Nosso partido é brasileiro, e qualquer um que queira servir é chamado ao trabalho. O nacional-socialismo mudará a vida de todos os brasileiros. Eu não preciso me esconder para defender aquilo que acredito ser a melhor forma de governar este país. Somos o nacional-socialismo universal. O mundo precisa de uma mudança extrema, e o nacional socialismo brasileiro é a solução. Não estamos aqui vestindo roupas ou slogans dos tempos de outrora. Somos uma política evoluída e aperfeiçoada com as experiências ao longo de décadas.

O número da sigla é o 88. É uma homenagem a Hitler (‘Heil Hitler’)?

88 é um dos lemas do nacional-socialismo brasileiro: a ‘honra habita’.

Na página do Facebook do partido, há quase 2.000 curtidas. Quantas pessoas, hoje, apoiam o PNSTB?

Entre 3.000 e 5.000. As pessoas preferem entrar em contato comigo por e-mail, pois no meio social ficam temerosas de se manifestarem. Esse número cresce gradualmente a cada dia que se passa. Temos (apoiadores ou militantes) no Acre, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Pessoas declaradamente nazistas já te procuraram para fazer parte do partido?

Muitas procuraram. O problema é que pensam que é um partido neonazista. O que, de fato, não é. Parte do meu trabalho é tirar essa visão distorcida que as pessoas têm.

Algumas religiões afirmam que a homossexualidade não pode ser aceita, pois a Bíblia não fala sobre casais do mesmo sexo. Outros usam a Constituição quando se fala sobre o termo “família”. Como você analisa a questão?

Eis a diferença: um homossexual que faz influência nas pessoas com sua arte que jamais será esquecida e um homossexual que ilude a população com vitimismos utópicos e tenta influenciar o jovem a ser como ele. Enquanto ficam se rotulando como vítimas, a maior parte da população ainda passa fome, milhões continuam desempregados, e muitos morrem nas filas dos hospitais. A pessoa que é homossexual, que seja feliz do jeito que achar, pois em nossa Constituição todos cidadãos têm o direito de ir e vir. Viva a vida sem querer influenciar os jovens. Sou líder de um partido de extrema direita, que vai mudar radicalmente o povo brasileiro. É meu dever falar tais coisas, não para promover ódio aos homossexuais, mas para conscientizar a sociedade, e principalmente os pais e os jovens, que a promiscuidade cultural imposta pelos atuais governantes quer escravizar o povo, mantendo-o na mesmice e procurando interromper o ciclo evolutivo da população, promovendo contos utópicos assim como fizeram com o ‘holoconto’.

Caso um homossexual desejasse entrar para a sigla, como seria a reação?

Se um homossexual quer filiar-se ao partido é porque ele concorda que para ele nascer foi preciso um homem e uma mulher. Então, provavelmente, esse cidadão está reavaliando seus conceitos sobre sua pessoa e provavelmente quer deixar de ser homossexual ou não vê que sua homossexualidade seja um exemplo a ser seguido.

Na resposta anterior você disse ‘holoconto’. Você acredita que o Holocausto não existiu?

Não houve informação sobre extermínios maciços em Auschwitz. Não poderiam ficar ocultados por muito tempo. Portanto, não houve extermínios maciços em Auschwitz. As acusações de pós-guerra tiveram sua origem em acusações durante a guerra. Sem dúvida, as diferenças entre ambas são tais que resultam evidente que as acusações não estão embasadas em acontecimentos reais. Muito do que se alegou durante a guerra foi deixado de lado depois, e somente uma fração se manteve. Segundo, a peça central das acusações de pós-guerra, Auschwitz, não foi usada para nada, senão até o mesmo final do período relevante. Tanto os documentos surgidos durante a guerra, como o comportamento dos judeus na Europa ocupada, demonstram que os judeus não tinham nenhuma informação referente a um programa de extermínio.

Em um governo de seu partido, como seria a relação com minorias? Você acredita na necessidade de cotas para negros em universidades ou demarcação de terras indígenas?

Não haverá esse conceito medíocre de minorias, todos nós somos brasileiros. Todos devem obter benefícios pelos seus esforços e méritos, e não por ser negro, branco, índio, homem, mulher etc. Não estou aqui para beneficiar uma classe específica. Se for brasileiro, eis que sairá vitorioso e orgulhoso de ser brasileiro.

Em seu Facebook há fotos com pessoas negras. Não há restrição racial no partido?

Todo brasileiro pode ser um nacional-socialista.

Você estudou outras ideologias antes de se declarar nacional-socialista?

Não apenas estudei como estudo ainda. Ao longo da vida aprendi que devemos procurar tudo aquilo que for virtuoso, de boa fama ou louvável.

O que acha do comunismo?

O comunismo, em toda parte onde alcança o poder, trata logo de libertar, não os trabalhadores, mas a escória da humanidade, o elemento antissocial concentrado nas prisões. E solta estas bestas selvagens no mundo impotente e aterrado que os rodeia. O comunismo converte campos florescentes em sinistros montões de ruínas. O nacional-socialismo transforma um regime de miséria e destruição em um Estado sadio, de próspera vida econômica.

Como você avalia Adolf Hitler? É uma inspiração para você?

Hitler foi um homem que trouxe prosperidade a um Estado amante de seu povo. Sim, é uma de minhas inspirações.