Alto Paranaíba

Justiça anula júri que inocentou secretário que matou ex-vereador em Patrocínio

Crime, que foi gravado, foi cometido pelo irmão do prefeito da cidade, em 2020, durante a campanha eleitoral

Por O Tempo
Publicado em 19 de abril de 2024 | 18:20
 
 
Jorge Marra alegou que agiu em legítima defesa por ter se sentido intimidado pela vítima Foto: Prefeitura de Patrocínio / divulgação

A justiça mineira anulou, nesta quinta-feira (18), a decisão do júri que inocentou o ex-secretário municipal de Obras da cidade de Patrocínio, no Alto Paranaíba, Jorge Marra, acusado de assassinar o ex-vereador da cidade, Cássio Remis, em setembro de 2020, em plena campanha para eleições municipais. O secretário é irmão do prefeito da cidade, Deiró Marra (PSB), reeleito no ano do crime.

Toda sequência de acontecimentos foi filmada. Em 24 de setembro de 2020, o então secretário Jorge Marra interrompeu uma gravação feita por Cássio Remis, que era candidato a vereador depois de já ter ocupado um lugar no Legislativo. Remis fazia acusações de irregularidades contra a gestão de Deiró Marra. 

Cássio Remis falava no vídeo quando Jorge Marra interrompe a gravação, rouba o celular e foge em direção a um veículo. Em seguida, o ex-vereador vai até a Secretaria de Obras da cidade para tentar pegar o telefone de volta. Os dois começam uma discussão. Jorge Marra saca uma arma e atira contra o adversário político. Os tiros foram registrados pelo circuito interno de TV.

Logo após o crime, Deiró Marra, prefeito da cidade, lamentou o ocorrido e classificou o caso como "tragédia". Disse que em toda sua vida pública respeitou o diálogo democrático com os adversários. O prefeito ressaltou que os acontecimentos jamais teriam sua aprovação e que confiava na ação da polícia para investigar o caso.

O ex-secretário foi preso por homícidio, roubo e posse ilegal de arma. Ele foi levado a júri popular em 2022, mas acabou inocentado do crime de homicídio, com a alegação de legítima defesa. Como já estava preso desde a data do crime, ele foi colocado em liberdade. A acusação e o Ministério Público recorreram da decisão, que terminou anulada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

A relatora, desembargadora  malin Aziz Sant'Ana, entendeu que a decisão dos jurados foi contrária às provas presentes nos autos e, por isso, era necessário um novo julgamento. “Tecnicamente, o júri realizado pela Comarca de Patrocínio em 2022 foi anulado. O acusado (Jorge Moreira Marra) será novamente submetido a júri popular em Patrocínio”, afirmou o desembargador Dirceu Walace Baroni, que foi revisor do caso. Ele votou pela validação do júri, mas foi voto vencido.

A defesa de Jorge Marra diz que irá recorrer da decisão para que prevaleça a decisão do júri. 

Veja o vídeo que deu início à desavença e que terminou com o assassinato do ex-vereador.

Na época do julgamento, a mãe de Cássio Remis, Francisca Carneiro Santos, manifestou revolta. "Eu perdi um filho, ele foi assassinato e a cidade libertou um assassino, porque as sete pessoas que estavam ali, estavam representando a cidade. E eu sei que a cidade estava indignada, tinham várias faixas repudiando o ocorrido (durante o julgamento). Imagina agora. Mas as coisas funcionam assim, e vamos refletir a respeito", disse após o resultado do júri.