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PF diz ao Supremo que crimes de presidente do Ibama estão configurados

Órgão também aponta em documento que há fortes indícios do envolvimento do ministro Salles

Por FOLHAPRESS
Publicado em 25 de maio de 2021 | 23:59
 
 
Autorização concedida por Bim indignou servidores do Ibama no estado Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Polícia Federal afirma em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que as provas obtidas na investigação sobre o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) indicam a prática de crimes por parte do presidente do órgão ambiental, Eduardo Fortunato Bim, e de outros servidores da área.

Segundo a PF, facilitação de contrabando, advocacia administrativa e dificuldades à ação de fiscalização ambiental do poder público são "crimes já configurados" por Bim à frente do órgão. O Ibama é responsável por fiscalizar crimes ambientais.

Há suspeitas de outros crimes. Neste caso, as investigações precisam ser aprofundadas.
As afirmações constaram de documento enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) e obtido pela reportagem, a partir do qual o ministro Alexandre de Moraes autorizou a Operação Akuanduba, deflagrada na semana passada e que tem também como alvo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Sobre Salles, no mesmo documento, a PF afirma existirem "fortes indícios de envolvimento [nas suspeitas] do atual ministro do Meio Ambiente". Por determinação de Alexandre de Moraes, Bim foi afastado do cargo por 90 dias.

O presidente do Ibama participou de reunião com empresários e congressistas em que se discutiu modelo menos rigoroso de fiscalização para a exportação de madeira. Um despacho interpretativo flexibilizou a exportação de madeira, em fevereiro de 2020. O despacho também foi suspenso pelo STF.

"Cremos que a documentação e demais dados coligidos nos presentes autos", disse a PF, "apontam, fortemente, para a possível existência de grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais, dentre outros crimes".

Datado de 25 de fevereiro, o despacho da presidência do Ibama eliminou a exigência de autorização de exportação de madeira por parte do órgão ambiental federal, com a exceção de espécies sob risco de extinção.

A pedido da PF, esse despacho foi suspenso em caráter liminar (provisório) por Moraes.
Uma das principais críticas ao despacho de Bim era que ele permitia a exportação apenas com os documentos de transporte, como guias florestais emitidas pelos governos estaduais e facilmente fraudadas.

Os principais estados produtores de madeira nativa, Mato Grosso e Pará, não estão integrados ao Sinaflor (Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais), como prevê o Código Florestal, de 2012.

A polícia afirmou que "as circunstâncias e os acontecimentos que antecederam e se sucederam à emissão do referido despacho" revelam "empenho pessoal do presidente do Ibama" no sentido de atender a demanda apresentada por empresas interessadas em legalizar exportações já realizadas.

Para os investigadores, ficou também demostrada, sob o comando de Bim, uma gestão voltada ao esvaziamento do Ibama, notadamente dos setores incumbidos da fiscalização. Em nota sobre as suspeitas leventadas pela PF, o Ibama afirmou que "os fatos serão plenamente esclarecidos nos autos do inquérito".

O advogado de Salles, Fernando Fernandes, disse que "todas as questões relativas à investigação serão prestadas nos autos do inquérito, tão logo se tenha acesso".