Segurança

Polícia está mais eficiente, aponta estudo

Pesquisa DataTempo mostra que 44,3% dos mineiros consideram que a segurança pública melhorou neste ano em Minas; entre os motivos estão a destinação de mais policiais às ruas e as metas de redução de indicadores nos batalhões

Por Bruno Menezes
Publicado em 16 de dezembro de 2019 | 02:36
 
 

Dados da pesquisa DataTempo/CP2, realizada entre os dias 20 e 25 de novembro deste ano, a partir de um questionário distribuído a 2.023 pessoas em todo o Estado, apontaram que o mineiro está mais otimista em relação à segurança. No levantamento encomendado por O TEMPO, 44,3% dos entrevistados avaliaram que a segurança pública melhorou em 2019, contra 34,8% que acreditam que nada mudou e 19% que consideram que, na verdade, ela piorou.

Para 50,3% dos pesquisados, o policiamento nas ruas e as ações policiais de inteligência são os pontos fortes do setor. A percepção de aprimoramento, evidenciada na pesquisa, pode ter relação com a queda nos índices de criminalidade. O número de roubos em Minas caiu 30,02% de janeiro a outubro deste ano em comparação com os mesmos meses do ano passado – passando de 65.206 casos para 45.632. A quantidade de homicídios também diminuiu (14,29%) no período, de 2.568 para 2.201.

Os fatores que têm levado à redução estão sendo analisados pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Segurança Pública (Cepesp)da PUC Minas, que deve concluir um diagnóstico no início de 2020. Até lá, a única certeza que se tem é que os pontos que antigamente influenciavam a alta ou o aumento da violência, como o desempenho da economia ou o desemprego, não são determinantes atualmente.

“A redução não está vinculada à dinâmica socioeconômica, como pobreza, educação, saúde e renda”, explica o coordenador do Cepesp, Luiz Flávio Sapori. Segundo ele, a taxa começou a cair no ano passado no Brasil, mas, em Minas Gerais, teve início em meados de 2017 e de forma mais significativa.

Estratégia

Sapori acredita que um dos fatores da redução dos crimes esteja relacionado a mudanças na atuação da Polícia Militar. “Houve uma reestruturação administrativa da PM, com a alocação e a remoção de policiais de atividades-meio para atividades-fim. Houve uma maior potencialização dos recursos de veículos. A PM começou a controlar indicadores e a cobrar resultados das suas unidades”, pontua Sapori.

Outro fator seria uma maior integração de órgãos no combate ao crime organizado, como ocorre em operações conjuntas do Ministério Público e das polícias Militar e Civil. Em relação ao número de homicídios, que estão ligados, diretamente ou indiretamente, na maior parte das vezes, ao tráfico de drogas, é perceptível que as facções estão matando menos, mas os motivos são desconhecidos. “O traficante, o gerente do negócio, quer ganhar dinheiro. Quanto menos polícia, mais lucro”, conclui Sapori.

 

Minientrevista

Luiz Flávio Sapori
Pesquisador da PUC Minas

O senhor acha que o projeto de implantação das bases comunitárias da Polícia Militar contribuiu para a redução de crimes?

O projeto das bases comunitárias é uma iniciativa boa. O principal resultado é aumentar a sensação de segurança do cidadão. Porque o cidadão observa a polícia no dia a dia, interage com o policial. A presença ostensiva, a visibilidade policial, por um lado, aumenta a sensação de segurança, de pertencimento na comunidade. E também inibe, certamente, a ocorrência de vários crimes nas redondezas, principalmente crimes contra o patrimônio. Mas as bases comunitárias, até o ano passado, ficaram restritas à capital. Elas contribuíram em uma medida para a redução da violência em Belo Horizonte, mas pouco. A diminuição da violência se deu e está se dando em todo o Estado. É um fenômeno impressionante. É generalizado, em praticamente todas as grandes e médias cidades de Minas. Então, as bases comunitárias não explicam isso, porque as bases começaram a ser disseminadas e interiorizadas muito recentemente e em um ritmo lento. Há um fator que atinge Minas como um todo e que está atuando simultaneamente em várias cidades.

Tratando-se do sistema prisional, o governo de Minas pretende categorizar os presídios por regime do preso. Esse é o caminho?

Essa é uma forma de racionalizar a execução da pena no Estado. Se o governo conseguir implementar essa orientação das unidades prisionais de acordo com o tipo de pena, será um grande ganho. Mas eu tenho dúvida da capacidade de isso se dar em curto prazo, devido à precaríssima e gravíssima situação fiscal de Minas. Porque isso demanda investimento. Você tem que, não apenas, realocar presos, mas também construir novas unidades. Nós temos um problema grave, que acredito ser o principal desafio do governo Zema: administrar essa superlotação. À medida que as polícias, principalmente a Militar, vão aumentando sua eficiência, e a Polícia Civil parece que está disposta a vir junto, o nível de aprisionamento cresce. A polícia mais eficaz previne crimes, mas também prende mais criminosos. A pressão sobre o sistema prisional aumenta, e Minas está com uma superlotação enorme, o dobro de presos em relação ao número de vagas.