Futuro estádio do Atlético, a Arena MRV admite dificuldades financeiras para atender parte das contrapartidas exigidas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para a construção do empreendimento, no bairro Califórnia, região Noroeste de Belo Horizonte. A maior preocupação é com os custos das intervenções viárias, já que são as mais caras.
"Os custos subiram muito. A minha preocupação é com os custos das contrapartidas, os da Arena nós vamos conseguir. Vamos ter que negociar as contrapartidas com a prefeitura, tentar retirar alguma condicionante que talvez não faça sentido e concluir isso no prazo. Sem esse recurso, vai ser um desafio, vamos ter que alongar um pouco mais", ressaltou o CEO da Arena, Bruno Muzzi, ao site especializado em marketing Máquina do Esporte.
Quando da aprovação da licença de instalação (LI), em dezembro de 2019, o valor das contrapartidas estava em R$ 80 milhões, incluindo as alterações de trânsito e condicionantes ambientais e sociais. O valor total da obra chega a R$ 560 milhões, segundo o último levantamento divulgado pela Arena MRV, em abril de 2020, quando a terraplanagem foi iniciada.
Os custos, da arena em si e das contrapartidas, possivelmente, aumentaram de um ano para cá. Além de ajustes contratuais, houve uma alta variação de preços no mercado da construção civil. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), nos últimos 12 meses (de março/2020 a fevereiro/2021), o preço dos materiais de construção cresceu 26,34%. Só o aço aumentou 75%, e o cimento, 50,79%.
O Super.FC pediu à Arena MRV um valor atualizado da obra e suas contrapartidas, mas os números ainda não foram consolidados. "As conversas com os órgãos da Prefeitura de Belo Horizonte são constantes sobre diversos assuntos relacionados à obra. A Arena MRV aguarda os projetos aprovados pelos órgãos competentes e está, também, na reta final de acerto de todos os números do contrato com a Racional. Assim que tivermos os dados concluídos, informaremos", informou o estádio alvinegro, em nota. A Racional é a construtora que toca a obra.
Intervenções viárias
As intervenções viárias, de fato, são as mais caras e robustas do empreendimento. São 15 mudanças listadas, entre elas, algumas de grande impacto para mitigar futuros problemas de engarrafamento nos horários de pico e de jogos na região.
Veja abaixo o antes e o depois nas vias de acesso no entorno do estádio:
- Implantação de quarta faixa na Via Expressa, sentido Contagem
- Adequação da interseção Anel Rodoviário/Via Expressa (quadrante Vitória - Contagem)
- Adequação da interseção Anel Rodoviário/Via Expressa (quadrante BH -Vitória)
- Adequação da interseção Anel Rodoviário/BR-040 (ramo direcional sentido Brasília - Vitória)
- Implantação da Via Marginal/agulha, sentido Contagem
- Duplicação do viaduto do Camargos e entorno
- Construção de passarela que liga a estação Eldorado do metrô até a esplanada
Para se ter uma ideia, só de contenções, as obras de trânsito vão movimentar 10 mil m² de terra. "Algumas intervenções são necessárias para ter acessibilidade adequada e, outras, são mais impostas e temos que tentar contornar", avaliou Muzzi.
A BHTrans informou ao Super.FC que os projetos já estão OK . "Os projetos foram aprovados. Houve pequenos ajustes por questões físicas e de topografia do terreno, mas nenhuma mudança significativa que alterasse as diretrizes iniciais dos projetos", informou a empresa, em nota.
Procurada, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) informou que não pode avaliar uma possível negociação das contrapartidas aprovadas, uma vez que a Arena MRV ainda não fez uma solicitação formal sobre as dificuldades em atender as exigências do município. Toda e qualquer mudança no que foi estipulado na LI precisa do crivo do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam).
O estádio está previsto para ser inaugurado no segundo semestre de 2022. Mas, para receber a licença de operação (LO), a Arena MRV precisa cumprir um total de 89 condicionantes. Além das obras viárias, há contrapartidas sociais, como a construção de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro (com anexo dentro da arena), uma academia de ginástica e um Centro de Línguas Integradas (Clic).
Na parte ambiental, o estádio tem que gerir e manter por 30 anos o conjunto de áreas formadas pelos espaços livres e pelo parque linear na Mata dos Morcegos além do plantio de 46 mil mudas em áreas verdes da capital pelo período de dez anos.
Cálculos
O plano de negócios da obra prevê a construção do estádio com recursos próprios. O clube vendeu 50,1% do DiamondMall, em 2017, por R$ 250 milhões. O valor corrigido chega a R$ 296,8 milhões, conforme comunicado ao mercado da Multiplan, em janeiro de 2020. O Galo também vendeu por R$ 60 milhões os naming rights para a MRV Engenharia, que terá direito ao uso comercial da marca por dez anos.
Para fechar a conta, o empreendimento tem pouco mais de R$ 203 milhões para levantar. A aposta está na venda de cadeiras cativas, camarotes e outras propriedades, como o licenciamento de serviços para o estacionamento, bares e alimentação e também a venda dos chamados sector rights.