Dois dos maiores times do continente, Cruzeiro e Boca Juniors travam nesta quinta-feira (4) no Mineirão mais um embate histórico pela Libertadores. A partida, que acontece às 21h45, definirá o último semifinalista da edição deste ano. À Raposa cabe o peso de uma virada com contornos épicos para avançar. Serão necessários três gols para derrubar os “Xeneizes” de forma direta, sem a necessidade do sofrimento dos pênaltis. Nos argentinos reside o peso da vantagem, conquistada em um polêmico jogo de ida, quando Dedé foi expulso de forma injusta. Nuances de uma disputa que coloca frente a frente equipes com raízes locais e que deixaram seus redutos para se transformarem em grandes marcas globais. 

Foi em 1921 que a colônia italiana reuniu-se no Barro Preto para dar início a uma história que ao longo dos anos se transformou na paixão de milhões. Uma jornada de afirmação que tem o bairro da região Centro-Sul como divisor de águas.

“Toda a história da torcida do Cruzeiro, reconhecida na América do Sul e também no mundo, começa na região do Barro Preto. Uma história que contempla fases do país, começando com a abolição da escravidão, a marginalização dos escravos e a consequente chegada dos italianos ao país. Muitos desses imigrantes, vindos principalmente do sul da Itália, deslocaram-se para trabalhar em Belo Horizonte na tentativa de buscar melhores condições do que as encontradas no oeste paulista, por exemplo. Quando chegaram à capital mineira, esses italianos moravam nos alojamentos localizados na região do Barro Preto e foi ali que eles fundaram o Palestra Itália”, afirma o historiador Geovano Chaves, pós-doutorando em história pela Universidade Federal da Grande Dourados-MS.

“O Barro Preto, por incrível que pareça, já foi considerado periferia de Belo Horizonte. E o Cruzeiro, antes Palestra, surge dentro dessa condição”, complementa o pesquisador.

Uma relação que se assemelha à importância do bairro de “La Boca”, em Buenos Aires, para o Boca Juniors. O local ganhou esse apelido porque a região fica na junção entre os rios da Prata e Riachuelo, que formam uma espécie de “boca” ao se encontrarem. O bairro, também localizado em uma região periférica, era ocupado por trabalhadores imigrantes italianos e de forte identidade genovesa, daí o apelido dado à torcida do Boca de “xeneize”.