Enquanto o futebol feminino mineiro vive momento especial no presente, entidades e clubes em BH dão oportunidade para meninas que sonham com a vida no futebol. A De Peito Aberto é uma dessas organizações, que com um projeto especial, forma meninas para o futuro no esporte e na vida.

Karoliny Araújo é uma dessas jovens que simbolizam o que vem por aí no futebol de Minas. Ela, hoje, já vivencia o sonho de uma jogadora e tudo iniciou com a oportunidade de, quinzenalmente, treinar na Arena Independência, na região Leste da capital mineira. Karol, como é chamada, tem 14 anos, e começou a jogar o futebol de forma mais organizada há um ano no projeto De Peito Aberto, além de ser goleira na categoria de base do Atlético. Mas os primeiros passos no mundo da bola foram bem antes, ainda na infância. 

“Comecei a jogar com 4 anos. No início, eu jogava com o time masculino, porque não tinha só feminino, e fiquei de 2017 a 2021 no masculino. Em 2022, fiz essa transição vindo para o projeto, ganhei bastante experiência, me senti mais confortável e mais segura por jogar com meninas e eu achei muito legal”, disse Karol, que mesmo no Atlético, ainda acompanha alguns treinos com as ex-colegas. 

A De Peito Aberto é uma organização social que tem como objetivo contribuir para esporte, educação, saúde e cultura para pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica ao redor do país. A instituição planeja e executa projetos em parceria com gestores públicos e privados, e destaca como seu principal diferencial a excelência pedagógica e metodológica oferecida às pessoas impactadas pelas iniciativas.

Além de Karol, a iniciativa já beneficiou mais de 450 alunas, entre 7 e 17 anos, na capital mineira e na região metropolitana desde sua chegada, em 2019. Fora de Minas Gerais, tem filial em Salvador, e por lá, em 2021, foi um dos vencedores do Prêmio de Serviço Público das Nações Unidas 2021, na categoria “Promoção de serviços públicos com perspectivas de gênero para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)”. As participantes recebem todo apoio, material esportivo completo — chuteiras e uniformes — e têm transporte organizado pela própria entidade.

“Desde criancinha eu nunca me imaginei sem o futebol. Um dos meus maiores sonhos é um dia poder representar a seleção brasileira, jogar uma Copa do Mundo, ou até um amistoso. Só de vestir a amarelinha seria muito gratificante e poder fazer parte da história também”, projetou a jovem goleira.

A vivência no esporte desde cedo traz vantagens para essas meninas que vão muito além das quatro linhas. É claro que o sucesso esportivo é importante, mas para Luana Morais, uma das gestoras do projeto social, a formação da cidadã é um dos objetivos principais. “O nosso projeto é voltado para o cunho educacional e nosso foco maior é em formar cidadãos. A ideia é sempre transformar essas aulas em um aprendizado interessante e poder formar esses cidadãos do bem. É claro que sabemos que daqui saem grandes atletas, mas nós, que acompanhamos de perto, ficamos muito satisfeitos em tornar essas meninas pessoas responsáveis e com o futuro cada vez melhor”, celebrou Luana.

Pisar em um dos gramados mais tradicionais do estado é um impulsionador para essas meninas, mas a troca com o estádio é benéfica também para o equipamento. Durante a semana, nos intervalos entre os compromissos do América, a turma agita o estádio e segundo Helber Gurgel, gerente de operações do Coelho, dá vida ao Independência.

“Quando recebi proposta do projeto, há cerca de três anos, fiquei inicialmente preocupado com a viabilidade, mas depois que ele começou a ser executado, vi que era muito bem organizado. Hoje é uma alegria para nós, porque as meninas trazem essa felicidade. Passamos aqui muito tempo do dia sem ouvir nada, e quando o futebol acontece no campo é excelente. Creio que o impacto positivo desse tipo de ação seja muito maior para nós, por podermos recebê-las aqui e entender o quanto isso é importante para o desenvolvimento delas”, falou Helber Gurgel.

Núcleo para o futebol feminino será criado em Minas

A Estratégia Nacional para o Futebol Feminino, iniciativa que prevê a criação de 11 núcleos para a prática gratuita do esporte por meninas e adolescentes, foi lançada no fim de agosto, em São Paulo, e as ações também serão realizadas em Minas Gerais.

A iniciativa será o pontapé de um conjunto de outras ações programadas pelo Ministério do Esporte e programadas em cinco eixos: capacitação profissional, incentivo à pesquisa, melhoria de calendários, profissionalização para atletas e mulheres em cargos de gestão.

“Você só pode ser o que você consegue ver. Se as nossas meninas não conseguem enxergar mulheres como técnicas, dirigentes, professoras, elas terão dificuldade de projetar um futuro nessas profissões. É preciso construir uma escola do futebol feminino brasileiro", disse a então ministra dos Esportes, Ana Moser, que participou do evento de lançamento.

Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese) deu início a um mapeamento da prática do futebol feminino para gerar estatísticas relacionadas à opinião, procura e demanda de futebol por meninas.  

A primeira versão do questionário está sendo aplicada no Fórum de Temáticas Esportivas (Forte) da Subsecretaria de Esportes, que reúne diversos profissionais da área. A segunda chegará de forma direta aos gestores esportivos municipais, para diagnosticar o desenvolvimento desta prática nos municípios e formas de fomento.

A Sedese contará com a parceria da Secretaria de Estado de Educação (SEE) para a última fase da pesquisa, que vai realizar o mapeamento da prática de futebol por meninas dentro das escolas. A diretora nacional de Promoção do Futebol Feminino do Ministério do Esporte, Sandra Santos, deve visitar Belo Horizonte em breve e incluir Minas Gerais na Estratégia Nacional. 

A jornalista Kin Saito e a advogada Luiza Parreiras, coordenadoras do futebol feminino do Cruzeiro e do América, respectivamente, estiveram presentes no lançamento da Estratégia Nacional. Para Luiza, é preciso dar qualidade na recuperação do tempo perdido por tantas gerações. Segundo Luiza, é essencial investir no incentivo à prática do esporte para meninas, desde a infância, com políticas sociais e apoio das instituições esportivas.