Foram pelo menos 24 ininterruptos anos dentro dos gramados. Por isso, quando o árbitro Wanderson Alves de Souza autorizar o início de Democrata-SL e o xará de Governador Valadares nesta segunda-feira (23), às 20h30, um torcedor especial do time de Sete Lagoas sentirá algo diferente. "Olha só, vai ser um pouco estranho, viu?", admite Carciano,  zagueiro recém-aposentado, de 41 anos.

Afinal, não é para menos. São 30 Mineiros no currículo, incluindo as três divisões. Desta vez, contudo, ele não estará no estádio José Mammoud Abbas, local do confronto que fecha a primeira rodada do Módulo I do Estadual 2023.

Além do ex-zagueiro, outro democratense 'de coração' está contando as horas para a bola rolar esta noite no Leste mineiro. "Vai ser diferente. Estou meio ansioso e curioso para ver como será minha reação. Acho que vou ficar nervoso como se estivesse no clube e não fosse relacionado para a partida", imagina Rafinha, ex-volante com história no clube de Sete Lagoas e que também pendurou a chuteira no fim do ano passado, aos 36 anos. Dezoito deles como profissional da bola.

Carciano deixou Salvador, sua terra natal, em 1998, e desembarcou no Democrata. Em Minas Gerais, fez carreira, constituiu família e se tornou cidadão sete-lagoano. Rodou por dezenas de clube no Brasil e passou por Portugal, mas, ao se despedir dos gramados, seguirá na cidade que o acolheu ainda adolescente. Rafinha nasceu em São Paulo, rodou por dezenas de clubes no Brasil e exterior, mas também adotou o Estado.

Foi em Minas, que a dupla também se tornou amiga. Foi no próprio Democrata que Carciano e Rafinha ajudaram o time a retornar ao Módulo I do Mineiro, após 15 anos, e colocaram um ponto final na carreira de jogador.

"Já são 24 anos morando em Sete Lagoas. Ano passado, recebi o título de cidadão honorário, um grande reconhecimento pelos serviços prestados ao Democrata. Fiz minha carreira aqui. Joguei em outras cidades, outros estados, em Portugal. Mas, minha vida foi toda em Minas Gerais", recorda-se Carciano.

Sentimento semelhante demonstra Rafinha. "Sou muito grato ao futebol mineiro. A maioria dos clubes onde joguei foram no futebol mineiro. Joguei as três divisões, fui campeão nas três, campeão do interior, campeão do Módulo II, da Segundona. Atualmente, resido em Lavras e me tornei mineiro. Tenho dois filhos mineiros, minha esposa é mineira. Pretendo morar o resto da minha vida em Minas".

Futuros distintos

Atual diretor do Santos, o ex-craque Paulo Roberto Falcão disse certa vez que "o jogador de futebol é o único ser humano que morre duas vezes. A primeira, quando para de jogar". A dupla que ajudou o Democrata a retornar à elite estadual vai, a partir desta segunda-feira, entender a que "primeira morte" chegou, de fato. 

"Agora, estou me sentindo bem, mas no início foi um pouco tenso. Parar foi uma decisão difícil. A sensação é meio estranha. A ficha foi cair mesmo quando anunciei, o Democrata e o Coimbra postaram agradecendo, os amigos e os torcedores mandando mensagem. Ali que a ficha realmente caiu. Pô, parei de joga profissionalmente", conta Carciano.

"Mas, agora, vou poder ficar mais próximo da minha família, dos meus dois filhos, da minha esposa. Passei muito tempo longe. Então, estou feliz e é isso que importa", acrescenta o ex-zagueiro.

Justamente por querer recuperar o tempo longe da família, que Carciano pretende seguir a vida fora do futebol, pelo menos por enquanto. "Quem sabe futuramente, né? Recebi alguns convites, do próprio Democrata, mas decidi não trabalhar no futebol por agora. Porque estaria vivendo a mesma rotina de atleta, ausente de casa. Já estou trabalhando (empresa de internet) e jogando futebol amador. Estou fazendo o que gosto, jogando bola, e perto da minha família. Estou feliz", assegura.

Rafinha, por sua vez, seguirá no mundo da bola. "Estou me sentindo bem. Vim me preparando para encerrar a carreira, comecei a cursar Educação Física, fiz alguns cursos de gestão e vou me dedicar à carreira de diretor de futebol".

Ano passado, o agora Rafinha Silva, teve uma prévia na nova função. "Trabalhei como diretor do North Esporte Clube, de Montes Claros, e conseguimos o acesso ao Módulo II. É um clube que terá uma estrutura fantástica. Está construindo um CT que será referência em Minas e abracei o projeto. Espero participar do crescimento tanto do clube como na minha carreira agora de diretor e ajudar fora dos campos", projeta.