O avanço da vacinação no mundo estimulou o crescimento de um novo segmento no turismo, o dos viajantes vacinados. Pesquisa da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) indica que 71% de seus associados relataram a procura de viagens por turistas vacinados. Desses, 29% comercializaram viagens para esse público para julho, e 47%, para o segundo semestre.
Segundo Roberto Nedelciu, presidente da Braztoa, o avanço da vacinação tem elevado a percepção de segurança das pessoas. “Esse fator, aliado ao fato de países já estarem facilitando a entrada de brasileiros vacinados e às promoções no mercado, constitui um cenário positivo para que as pessoas garantam sua viagem nas férias ou daqui a alguns meses”, salienta.
Nos EUA, em abril, quando um terço da população adulta já tinha recebido pelo menos uma dose do imunizante contra a Covid-19, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), emitiu um parecer afirmando que pessoas vacinadas já podiam viajar com segurança pelo país, mas sem abrir mão da máscara e do distanciamento social.
Abertos para vacinados
Paralelamente à vacinação, alguns países também têm aberto as fronteiras aos vacinados. Os casos mais recentes são os da Suíça e Islândia. No sábado, a Suíça autorizou a entrada de estrangeiros imunizados, inclusive de países com casos de variantes do coronavírus. A exigência é o turista apresentar o comprovante de vacinação junto com o passaporte.
No caso da Islândia, que faz parte do Espaço Schengen, se o viajante fizer conexão em um país da União Europeia, estará sujeito às regras do bloco. “Nossa experiência e dados até agora indicam que há pouco risco de infecção proveniente de indivíduos que adquiriram imunidade contra a doença, seja por vacinação ou por infecção anterior”, afirmou o epidemiologista-chefe da Islândia, Thórólfur Gudnason.
Alerta
A infectologista Tânia Chaves, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Sociedad Latinoamericana de Medicina del Viajero, adverte para a realidade das vacinas. “Não adianta eu estar vacinado e sair viajando. Enquanto o outro não estiver vacinado, ninguém estará realmente protegido”, enfatiza.
Tânia alerta que não há vacina 100% eficaz. “Dá até para viajar, mas é preciso aliar a vacina às medidas de proteção: continuar a usar máscara, não aglomerar e higienizar as mãos. O maior risco não é adquirir a Covid no destino, mas o de adoecer longe de casa”, disse.
Pacotes
Uma das operadoras que se beneficiaram desse novo segmento é a BWT. “Tivemos o melhor junho de vendas da história da operadora. Vendemos 34% a mais do que em 2019. Dessas vendas, mais de 50% eram para turistas vacinados”, conta Adonai Filho, diretor da operadora.
A maioria dos imunizados, segundo ele, são viajantes da terceira idade que tomaram as duas doses e profissionais de algumas categorias. Ele enfatiza que o fato de estar vacinado não significa que o viajante consiga entrar no destino, é preciso que confira as restrições de cada um antes da viagem.
A demanda não é grande apenas para fora do país, mas também no doméstico, principalmente para destinos do Nordeste. Filho recomenda que os viajantes aproveitem as promoções, porque os preços devem subir muito por conta do aumento da demanda e da limitação de voos e lugares.
Quatro viagens em 2021
Com quatro viagens quitadas e canceladas em 2020 por conta da pandemia, Ignez Pereira Martins, 80, decidiu remarcá-las para este ano depois de ter tomado as duas doses da vacina. A aposentada planeja viajar para Colômbia, em julho, Albânia, Macedônia e Kosovo, em setembro, Egito, em novembro, e Jalapão, em dezembro. “Estou tranquila, porque não vou não abandonar os cuidados que estou tendo”, afirma.
Sem viajar desde janeiro de 2020, quando visitou a Índia, a ginecologista Heloísa Werneck, 60, que já tomou as duas doses de Coronavac, agendou uma viagem de 15 dias para o Egito, com extensão de um semana a Dubai, em novembro, na companhia da filha Giovana, 24, que aguarda com expectativa a vacinação até setembro.
"Vamos continuar a tomar as medidas de segurança, como usar máscaras e tendo todo o cuidado possível. Como sou médica, risco eu já corro atendendo paciente todos os dias no consultório ou quando vou ao hospital", reconhece.
Coragem e segurança
Heloísa comprou a viagem na mão da sobrinha, Raquel Werneck, que abriu a agência Travel & Co. em novembro do ano passado, em plena pandemia da Covid-19. "Após maio, a procura aumentou absurdamente", afirma. Ela acredita que a vacinação está dando mais coragem e segurança para as pessoas viajarem. Muitas de suas vendas, no entanto, são para 2022.
Entre os destinos mais procurados estão Aruba, Dubai, Egito, Maldivas, República Dominicana e México. O pacote mais barato, personalizado, custa a partir de R$ 7.000 por pessoa, com aéreo, hospedagem e seguro-viagem com cobertura para Covid. "É preciso, no entanto, ficar muito atento, porque as regras mudam muito rápido nos países", conta.
Sobre o turista vacinado que procura a agência, mas ainda tem receio em embarcar para o exterior em plena pandemia, Raquel dá um conselho curto e direto: "Se o cliente se sente inseguro, não deveria viajar, porque uma viagem é algo prazeroso. Não vale a pena viajar com medo ou paranóia".
Tire suas Dúvidas
Quando poderei voltar a viajar de novo?
Quando a pandemia estiver controlada e a circulação do vírus for contida. Ou quando atingirmos 70% da população mundial vacinada.
Tomei a primeira dose, já posso viajar?
A primeira dose não garante proteção com formação de anticorpos o suficiente para evitar a infecção pela Covid-19.
Depois da segunda dose, quanto tempo para eu poder viajar?
No mínimo duas semanas.
Se não abrir mão da viagem, quais os cuidados devo ter?
Os mesmos cuidados das medidas não farmacológicas, que já viraram mantra mundial nesta pandemia: usar máscara (e ter sempre máscaras sobressalentes), higienizar constantemente as mãos e evitar aglomerações, principalmente os fechados. Prefira os espaços ao ar livre.
Quero viajar com a família, fui vacinada, e meus filhos, não. Posso viajar assim mesmo?
Com todas as restrições, especialmente se forem crianças e adolescentes e aqueles em que faixa etária não foi contemplada.
Qual é o maior risco na viagem?
Adoecer de Covid-19 mesmo vacinado. Não existe vacina que seja 100% eficaz.
Fonte: Tânia Chaves, infectologista
Países abertos aos vacinados com as duas doses
* Todos exigem certificado de vacinação, de preferência em inglês ou no idioma local;
* Boa parte exige teste PCR negativo para Covid até 72 horas antes do embarque;
* Confira antes de embarcar as vacinas autorizadas em cada país;
* Geralmente é permitido entrar nos paises os turistas imunizados com as vacinas Janssen, Moderna, Pfizer/BioNTech e Oxford/AstraZeneca.
Bahamas
Deve-se adquirir o Bahamas Travel Health Visa aprovado com um código QR no site.
Belize
É necessário também baixar o aplicativo Belize Health Travel App e gerar um QR Code para apresentar na chegada. Somente são aceitas reservas em hotéis pré-selecionados.
Equador
É necessário preencher o formulário Declaración de Salud del Viajero.
Ilhas Seychelles
É necessário apresentar também autorização de viagem prévia.
Líbano
Deve-se fazer um novo teste PCR na chegada ao aeroporto.
Sem muitas restrições
Aruba, Curaçao, Colômbia, Costa Rica, Egito, Emirados Árabes, Estônia, Geórgia, Ilhas Maldivas, Irlanda, Islândia, Montenegro, República Dominicana e Venezuela.