Se há um lugar onde o slow travel é obrigatório, é Quito. Pelo menos nos dois primeiros dias depois do desembarque: a altitude de 2.850 m obriga o visitante a evitar andar rápido, para não perder o fôlego ou passar mal. Vá devagar. Principalmente se for admirar a vista da cidade em um dos montes que a circundam, como El Panecillo, onde há a estátua da Virgem de Quito, símbolo da capital reproduzida em suvenires e grafites nas ruas.

E para que pressa? É lentamente que se deve passear no centro histórico, primeira área urbana declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1978. Assim, há tempo para notar as gárgulas em formas de tartarugas e iguanas, animais típicos do Equador, na fachada da catedral, na Plaza Mayor, onde também está o Palacio de Carondelet, sede da Presidência em estilo neoclássico, com  grades de ferro nos balcões, vindas da França.

Adiante, rumo à Plaza de San Francisco, não dá para passar rapidamente pela capela de El Sagrario, nem pela igreja jesuíta de La Compañia. Ambas começaram a ser construídas no século XVII, mas a última levou 180 anos para ficar pronta. Tempo para se rechear a fachada em pedra vulcânica de pequenos e elaborados detalhes; cobrir de ouro o altar, e decorar pilastras com filigranas que lembram as das mesquitas dos árabes, que dominaram a Espanha até serem expulsos em 1492, ano em que os espanhóis iniciaram a colonização das Américas.

Na chegada à Plaza de San Francisco, há um marco da conquista hispânica: a igreja e monastério de São Francisco, que começou a ser construído em 1535, no lugar de um palácio inca, dois anos depois de eles serem  derrotados pelas armas e as doenças europeias. Nela, há a pintura de onde foi tirado o modelo da Virgem de Panecillo.

Ao lado das grandes catedrais repare no casario em estilo republicano. O  termo denomina os prédios que imitavam a arquitetura francesa, e um estilo que surgiu depois da independência, também em 1822, numa tentativa de se livrar da influência ibérica.


Curiosidades
Gerânios. Muitas casas em Quito têm um adorno que justifica o apelido de "cidade dos gerânios" dado à capital do país, grande exportador de rosas.

Proteção. Os gerânios estão nos vasos que enfeitam janelas e pequenas varandas, mas a decoração nem sempre era adotada para fins pacíficos: os vasos costumavam ser arremessados por pais enfezados nos jovens que ousavam fazer serenatas para suas filhas.

Para aquecer. À noite, portinholas de biroscas se abrem, e carrocinhas ficam na calçada para oferecer o canelazo, bebida que leva canela, açúcar e naranjilla, uma fruta semelhante à laranja, e custa US$ 0,50 a dose.

Azedou o preço. Assim como a mistela, um coquetel de vinho quente com canela (vinhos, por sinal, são caros no Equador, porque o presidente Rafael Correa taxou em 35% a sua importação, mesmo dos países sul-americanos), ajuda a enfrentar o frio à noite.

Quatro estações. Moradores dizem que, em Quito, o clima é sempre de primavera pela manhã, verão ao meio-dia, outono à tarde e inverno à noite: a cidade de arquitetura espanhola e francesa, barroca e neogótica, concentra as quatro estações em um só dia.

Diversidade. E 13 etnias que vivem no pequeno país em um pequeno museu.