Avançando nas discussões em busca de metas mais ambiciosas para a redução das emissões de gases de efeito estufa, o segundo dia da Conferência das Partes sobre as Mudanças Climáticas (COP 29) foi marcado pela sinergia nas iniciativas que intensificam a cooperação internacional, com o olhar voltado para o incremento da meta de financiamento para ações de adaptação climática.

Integrando o time selecionado pela ONU para participar dos debates de alto nível, na chamada Blue Zone, o urbanista Sérgio Myssior e o biólogo Thiago Metzker, à frente do Grupo MYR e do Instituto Bem Ambiental (IBAM), compartilham as análises deste dia 12, em Baku, no Azerbaijão. Um dos destaques de hoje é a segunda edição do Minas Day - Soluções climáticas em prol da transição para a economia de baixo carbono no Estado de Minas Gerais.

“Entre os assuntos que têm sido debatidos nesta conferência global, destaca-se a presença cada vez mais clara das empresas e organizações na construção da agenda climática e, principalmente, da jornada ESG”, sublinha Sérgio Myssior. “Empresas de ponta já perceberam que esse tema, antes periférico e acessório, tornou-se central não só para a reputação das corporações, mas especialmente, para a prosperidade e desenvolvimento de vantagens competitivas. Afinal, estamos diante de uma novíssima economia verde, limpa e sustentável, que suscita uma série de oportunidades para o mundo corporativo”, analisa.

O especialista acredita que haverá um impacto de até 20% no PIB global, em relação àquelas empresas, governos e países que não se adaptarem ao novo cenário. “Portanto, a COP 29 representa uma oportunidade não só de acessar diversas soluções, mas de realizar conexões com instituições que viabilizem o financiamento da transição para uma economia de baixo carbono”, conclui o urbanista.

Contenção de barragens e investimentos em energia renovável pautam o discurso do governo do Estado no Minas Day

As iniciativas e as políticas públicas ganharam os holofotes no segundo dia da Conferência das Partes sobre as Mudanças Climáticas, a COP 29. A participação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, foi um dos pontos altos da tarde, dentro da programação do Minas Day, que reuniu, em Baku, os players globais dos setores público e privado, em debates sobre a urgente transição para a economia de baixo carbono e a busca da neutralidade de emissões estaduais até 2050.
 
“Estamos demonstrando que Minas Gerais tem feito a lição de casa e temos um motivo para levar essa pauta ambiental adiante, porque já fomos castigados por duas tragédias, a de Mariana e a de Brumadinho”, afirma o governador do Estado. “Adotamos uma nova legislação e uma série de medidas para evitar esse tipo de ocorrência, já contando com melhorias concretas: das 54 barragens que ofereciam algum tipo de risco, 16 foram descomissionadas, e as demais seguem em processo de descomissionamento”, garante Zema.
 
O progresso do Estado como referência nacional em fonte de energia renovável também foi apontado pelo governador como destaque na pauta ambiental. “Multiplicamos por 20 a nossa capacidade de energia fotovoltaica, no comparativo com 2019, ano em que o índice do Estado era de 500 MB e, recentemente, rompemos a barreira dos 10.000 MB, garantindo uma matriz energética limpa, sustentável e renovável”, declara.
 
Durante as entrevistas com o governador Romeu Zema, os fundadores do Grupo MYR, Sérgio Myssior e Thiago Metzker, reforçaram a importância de um dos pilares da conferência realizada em Baku: o financiamento climático, evidenciando a crescente participação dos governos estaduais e municipais nesse cenário de novíssima economia verde, limpa e sustentável.
 
“Fomos o primeiro Estado do Brasil e do Hemisfério Sul a assinar o compromisso ‘Race to Zero’ com o Reino Unido, há cerca de quatro anos, visando anular a emissão de gases de efeito estufa até 2050, e temos o maior interesse em promover linhas de crédito e subsidiar recursos, por meio do BDMG, para financiar a instalação de fontes de energia sustentáveis em casas e comércios no Estado”, ressalta Zema.
 
Durante o Minas Day, o governo mineiro lançou uma atualização do portfólio “Cases de Sucesso”, com exemplos de ações direcionadas à preservação ambiental. Além do governador, o evento contou com a participação da secretária de Meio Ambiente, Marília Melo; do secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio, e do secretário Adjunto e diretor do ICLEI Brasil, Rodrigo Corradi. O presidente da Cemig, Reinaldo Passanezi Filho, e o diretor-presidente da Invest Minas, João Paulo Braga, também marcaram presença como palestrantes no Minas Day.

Cemig assina compromisso de descarbonização na COP29

Durante o Minas Day, realizado na terça-feira (12), durante a COP 29, em Baku, Azerbaijão, o presidente da Cemig, Reinaldo Passanezi, conversou com o urbanista Sérgio Myssior, sócio do Grupo MYR, do Instituto Bem Ambiental e observador internacional da ONU na COP 29, no Azerbaijão. A empresa assinou um compromisso com as Nações Unidas, para chegar ao Carbono Zero até 2040, segundo Passanezi a única brasileira do setor. 

A companhia energética de Minas Gerais deu início à elaboração do seu Plano de Ação Climática, em 2023, que busca definir os caminhos de descarbonização para atingir as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEEs), além de identificar ações de descarbonização, novas oportunidades de negócios e lacunas no processo de descarbonização. 

Para atingir a meta de descarbonização, a companhia estabeleceu pilares estruturadores, com metas a serem implementadas entre 2023-2030. São pilares para chegar à meta Carbono Zero a redução de emissões no negócio de distribuição; a redução de emissões no negócio de geração (Planejamento Estratégico 2024-2028); e a redução de emissões no negócio de comercialização de eletricidade. 

Entre as ações estão a instalação de medidores inteligentes de operação remota na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), evitando o deslocamento de veículos e aumentando a velocidade do atendimento (redução de emissões em 1.769 tCO2e/ano); implantação de um sistema integrado para controle, operação e gerenciamento de redes de alta, média e baixa tensão, que contribuirá para reduzir o número de viagens com veículos movidos a diesel (redução de 278,57 tCO2e/ano emitidos); implementação de redes zero baixa tensão (BTzero), contribuindo para a redução de perda de energia, com redução estimada de emissões de 17.499,11 tCO2e/ano; além da implantação de projetos de eficiência energética, como Minas Led, Hospitais Cemig, escolas, entre outros. 

Duas Perguntas para Reinaldo Passanezi

A Cemig destacou seu compromisso com uma aliança global que tem como objetivo zerar suas emissões de carbono. Qual o trabalho que a Cemig tem desenvolvido institucionalmente e junto às comunidades para, não só elevar o nome de Minas, como para gerar uma série de oportunidades, sejam elas no campo social, ambiental ou do desenvolvimento econômico? 

Tenho muito orgulho de dizer que a Cemig é a única empresa brasileira do setor elétrico que faz parte do Dow Jones de Sustentabilidade Index, há mais de 25 anos. E agora acabamos de assinar um compromisso com as Nações Unidas, pra gente chegar ao Carbono Zero, até 2040. Esse é o compromisso da Cemig, em parceria com a Unesa, que reúne todas as empresas elétricas que fazem parte desse compromisso. E nós somos a única empresa brasileira a integrar este grupo. 


E na área de inovação? O que a Cemig tem feito?

A Cemig de fato é um exemplo na área de inovação, além de estarmos há 25 anos no Index Dow Jones e assinar esse compromisso pela Unesa/ONU até 2040. Mas mais importante que os compromissos são os fatos. Somos 100% renováveis, então quando o pessoal vem olhar aqui e você olha o mundo, ele é 28% renovável; a Europa é 32% renovável. O Brasil é 88%, mas a Cemig é 100%. Então isso nos dá muito orgulho. Efetivamente, somos uma empresa compromissada com a sociedade e com o melhor futuro do planeta. 

Resíduos: assunto relevante e pouco falado 

Entrevista: Professor Paulo Guerra, administrador público pela Fundação João Pinheiro e gerente de Programas da Fundação Dom Cabral (FDC)

Gostaria que o sr. falasse sobre a gestão integrada dos resíduos sólidos, ou seja, o nosso lixo Urbano, dentro do contexto das mudanças climáticas.

Este é um assunto muito importante, mas que a gente trata muito pouco, e que perpassa os quatro eixos relevantes quando falamos de mudanças climáticas - mitigação, adaptação, colaboração e financiamento climático. O gás metano, por exemplo - gerado pela decomposição dos resíduos sólidos em aterros sanitários, é um dos graves problemas de poluição atmosférica. Se trato bem esse gás, posso utilizá-lo para geração de combustível, e consigo reduzir custos de produção de energia.

E no eixo da adaptação?

A gente viu o que aconteceu no Rio Grande do Sul depois da tragédia - a quantidade de lixo espalhado na cidade toda e a dificuldade de removê-lo, e o quanto isso pode gerar problemas de saúde pública. Na questão da colaboração, a gente não consegue falar sobre o tratamento de resíduos sem colaboração. São temas intrinsecamente relacionados.

Sobre a ótica do financiamento, o que o sr. pode falar?

Então sobre a questão econômica do financiamento, precisamos considerar o lixo como uma fonte de materiais, já que pode virar matéria-prima novamente, e também ele é uma fonte de recursos financeiros consistente que pode financiar outras ações ou reduzir custos de operação dos municípios brasileiros e cidades de maneira geral, que são grandes geradores de resíduos.

*Correspondentes especias de O TEMPO na COP29