À medida que o plano de austeridade do presidente da Argentina, o economista ultraliberal Javier Milei (La Libertad Avanza), 53, foi ganhando força neste primeiro ano de governo, a popularidade dele diminuiu. Eleito com 55% dos votos válidos em 19 de novembro de 2023, o mandatário teve a gestão desaprovada por 50,7% da população na mais recente pesquisa do Instituto AtlasIntel, divulgada em 7 de novembro, contra os 48% registrados em março. O índice de aprovação foi de 42,8%. Mas, contrariando a previsão de muitos analistas, o governo Milei resistiu e resiste às duras medidas de sua política de austeridade fiscal. E a expectativa é de retorno a patamares elevados de avaliação positiva.
Alçado à Casa Rosada por uma população desiludida com a falta de soluções para a crise econômica gerada pela inflação alta, as muitas expectativas depositadas nesse anarcocapitalista que conquistou corações e mentes com a exaustão completa das forças políticas argentinas, da esquerda à direita, começaram a se diluir.
A pobreza aumentou 11 pontos em seis meses, chegando a 52,9%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Censo. Esse incremento se deu sob o pretexto de que o Estado passa por reformas, analisa o professor de política internacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes.
“Mas, para uma população que tem fome, essa receita da austeridade opera como uma bomba social”, adverte o professor de política internacional. Ele defende a adoção de mecanismos de alívio da miséria ao mesmo tempo em que a “política motosserra” de Milei continue a ser colocada em prática. “Me parece que o governo argentino não tem sido hábil o suficiente para conduzir as duas tarefas ao mesmo tempo”, pondera.
A grande promessa do presidente Javier Milei, simbolizada pela “motosserra”, é justamente esta: liberar um conjunto enorme de preços congelados pelo governo federal, desde aluguel até gás, o que impôs uma enorme elevação do custo de vida na Argentina, lembra o professor do Instituto de Relações Internacionais da USP Feliciano Guimarães.
“Milei resistiu e vem resistindo, e não há nenhum movimento crível de ‘impitimá-lo’. Conseguiu criar um governo que funciona e aprovar parte da legislação. Tem uma oposição que, embora tenha muita força de voto no Congresso, é fraca politicamente porque fez um governo anterior muito ruim. Isso tem favorecido Milei”, analisa Feliciano Guimarães.
O professor da USP acredita que, passada esta “fase mais aguda” do governo, a tendência é de uma recomposição da massa salarial. “A perspectiva para o governo, em 2025, é de melhora da popularidade de Milei”. Outro indicador de potencial crescimento da aprovação é o fato de 62% da população ainda preferir corte de gastos ao aumento de impostos, de acordo com pesquisa AtlasIntel.
Javier Milei é o preferido entre todos os adversários políticos dele. Pesquisa AtlasIntel de 31 de outubro mostrou que 41% dos argentinos têm uma imagem positiva dele, colocando-o à frente da ex-presidente Cristina Kirchner (38%) e do governador de Buenos Aires, Axel Kicillof (36%). Milei também está acima do ex-presidente Mauricio Macri (23%), cujo partido, Proposta Republicana (PRO), integra a base do presidente no Congresso.
Milei será mais pragmático para ampliar bases
La Libertad Avanza, de Javier Milei, é um partido que detém 15% das cadeiras do Congresso argentino – 40 assentos. Para governar, o presidente teve que fazer uma aliança com o Proposta Republicana (PRO), do ex-presidente Mauricio Macri – mais 40 –, para obter maioria mínima e conseguir aprovar sua legislação com um índice um pouco acima de 50% dos votos. A figura de Patricia Bullrich, candidata derrotada à Presidência, é fundamental.
“Ele ainda tem, obviamente, uma oposição muito forte, tanto no Senado quanto na Câmara. Vamos ter essa eleição do meio de termo, ano que vem, que abre a possibilidade de La Libertad Avança ter um pouco mais de folga para essa maioria”, analisa o professor do Instituto de Relações Internacionais da USP Feliciano Guimarães.
Em outubro de 2025, serão eleitos 127 dos 257 deputados e 24 dos 72 senadores, e é bem possível que Milei amplie sua base de sustentação, acredita o especialista. O presidente vem enfrentando dificuldades para aprovar as reformas, tendo que negociar pontos e posições.
Nessa busca por maioria, do ponto de vista do discurso político, o perfil de Milei será exatamente igual em 2025. Do ponto de vista da operação da máquina do governo, da condução das políticas econômica e externa, será mais pragmático, aposta Feliciano Guimarães.