A vida ganhou um novo sentido para o norte-americano Aaron James, morador do estado do Arkansas. Em 2021, ele se feriu gravemente em um acidente elétrico enquanto trabalhava como eletricista de alta tensão - Aaron tocou com o rosto em um fio energizado de 7.200 volts. Ele perdeu o braço esquerdo, o olho esquerdo, o queixo e o nariz. Por dois anos, James não conseguiu comer alimentos sólidos, sentir gosto, cheiro ou falar normalmente.
Dois anos depois da fatalidade, em maio de 2023, ele recebeu o primeiro transplante de olho inteiro e rosto do mundo em um procedimento na New York University (NYU) Langone Health, em Nova York. Mais de um ano após a cirurgia, o olho transplantado continua saudável.
O olho transplantado não consegue se mover ou enxergar, mas tem pressão normal e bom fluxo sanguíneo, sendo que a retina responde à luz. James pode sentir uma sensação de coceira profunda na órbita ocular, e a sensibilidade ao redor do olho começou a voltar. Os nervos periféricos ao redor do olho se regeneram de forma bastante aleatória.
COMO FOI O PROCEDIMENTO?
Uma grande equipe médica transplantou todo o olho esquerdo, a cavidade óssea ao redor dele, o nariz, um pedaço do osso do queixo e os músculos, nervos e vasos sanguíneos, todos recebidos por doação de um homem falecido. A cirurgia levou cerca de 21 horas.
Os médicos nunca esperaram que James recuperasse a visão no olho transplantado. Para Daniel Ceradini, cirurgião da NYU Langone Health e primeiro autor do estudo, não haviam evidências de que o nervo óptico do doador pudesse se reconectar com sucesso ao cérebro de Aaron James. “O nervo óptico, que envia informações da retina para o cérebro, faz parte do sistema nervoso central, e a forma como se regenera esse sistema é um mistério . Mas a operação leva os pesquisadores um passo mais perto de um transplante de olho que poderia um dia restaurar a visão”, afirma o cirurgião.
Muitos avanços científicos se uniram para fazer a cirurgia acontecer. A equipe essencialmente desenvolveu uma nova operação com base em princípios existentes. O suprimento de sangue para os olhos vem de uma artéria diferente daquela que abastece o resto do rosto. Para garantir que o olho doado não perdesse o fluxo sanguíneo por muito tempo, os cirurgiões conectaram a artéria que abastecia o olho do doador a um ramo da artéria carótida externa do doador, um grande vaso que começa perto do pescoço. Todo o conjunto foi então transplantado para James, um procedimento que nunca foi alcançado em humanos.
Outro avanço foi a criação de um par de guias cirúrgicos impressos em 3D que permitiram que os cirurgiões pegassem precisamente a quantidade certa de osso do doador necessária para se encaixar no rosto de James. Os guias foram baseados em tomografias computadorizadas dos rostos do doador e de James, e foram ajustados sobre seus rostos durante a cirurgia. "A peça do doador se encaixa perfeitamente ali, como uma peça de quebra-cabeça de encaixe rápido", diz Ceradini.
O PÓS OPERATÓRIO
Quando James acordou da cirurgia, a primeira coisa que notou foi o cheiro. Depois de dois anos sem olfato, ele pode sentir o cheiro das coisas novamente. Uma semana e meia após o transplante, Aaron viu seu novo rosto pela primeira vez e, desde esse momento, não usa mais um tapa-olho e uma máscara quando sai, como fazia antes do procedimento, e pode deixar a barba crescer.
O olho transplantado não consegue se mover ou enxergar, mas tem pressão normal e bom fluxo sanguíneo, e a retina responde à luz. Aaron pode sentir uma sensação de coceira profunda na órbita ocular, e a sensibilidade ao redor do olho começou a voltar.
"Recebi o presente de uma segunda chance e não desvalorizo um único momento. Agora voltei a ter prazer de me olhar no espelho”, disse o norte-americano em entrevista ao New York Post.
(Contém informações do portal norte-americano Nature)