Palestinos deslocados por causa dos ataques de Israel começaram a voltar para o norte da Faixa de Gaza neste domingo (9), após a retirada completa das tropas israelenses do chamado corredor Netzarim, como parte de um acordo de cessar-fogo.
Netzarim divide a Faixa de Gaza em duas e, com a presença de forças israelenses, impedia que o retorno dos deslocados ao norte. A saída dos israelenses faz parte da frágil trégua entre o governo de Israel e o Hamas.
O acordo entrou em vigor em 19 de janeiro, após mais de 15 meses de guerra entre Israel e o grupo islamista. As partes devem negociar uma extensão que levaria à libertação de mais reféns israelenses mantidos pelo Hamas.
Com base no acordo de cessar-fogo, Israel e Hamas realizaram várias trocas de reféns israelenses por prisioneiros palestinos. A quinta troca ocorreu no sábado (8) e levou à libertação de três reféns israelenses e 183 detidos palestinos.
Após a entrega, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamou os membros do Hamas de “monstros” devido à aparência dos reféns.
“As forças israelenses desmontaram suas posições e postos militares e removeram completamente seus tanques do corredor Netzarim na rodovia Salahadin, permitindo que os veículos passassem livremente em ambas as direções”, disse um funcionário do Ministério do Interior na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas.
Jornalistas de agências internacionais confirmaram que não havia forças israelenses e viram carros, ônibus, caminhonetes e carroças puxadas por burros circulando pela rodovia Salahadin, a principal rota de comunicação de norte a sul da Faixa, que também atravessa o corredor.
A guerra começou com um ataque do Hamas em território israelense em 7 de outubro de 2023, que deixou 1.210 mortos do lado israelense, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
O Hamas fez 251 reféns em Gaza, dos quais 73 permanecem no território, incluindo 34 que teriam morrido, segundo o exército israelense. A ofensiva de retaliação israelense deixou pelo menos 48.181 mortos em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Netanyahu diz que 'fará o trabalho' para remover palestinos de Gaza
No sábado (9), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, saiu em defesa da proposta do presidente norte-americano, Donald Trump, de remover os palestinos da Faixa de Gaza. Em entrevista à Fox News, o líder isralense afirmou que seu país está pronto para “fazer o trabalho”.
“Acho que a proposta do presidente Trump é a primeira ideia nova em anos e tem o potencial de mudar tudo em Gaza”, afimrou Netanyahu, garantindo que é a “abordagem correta” para o futuro do território palestino. “O que Trump está dizendo é: ‘Quero abrir a porta e dar a eles a opção de se mudarem temporariamente enquanto reconstruímos fisicamente o lugar’”, disse o isralense.
De acordo com Netanyahu, Trump “nunca disse que quer que as tropas americanas façam esse trabalho. Sabe o que eu digo? Nós faremos o trabalho”. Netanyahu visitou Washington na semana passada. Após o encontro, Trump falou a jornalistas sobre seu plano para a Faixa de Gaza. Ele falou em tomar o território e deslocar todos os palestinos.
Israel tomou a Faixa de Gaza em 1967 e manteve presença militar lá até 2005, quando retirou seus colonos e tropas. Posteriormente, impôs um bloqueio ao território governado pelo Hamas e o colocou sob cerco quando a guerra começou em outubro de 2023.
Israel e grupos armados em Gaza travaram várias guerras nos últimos anos, mas a mais recente, desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas ao território israelense em 7 de outubro de 2023, foi a mais mortal e destrutiva.
Para os palestinos, qualquer tentativa de expulsá-los de Gaza evoca o trauma da Nakba (“catástrofe”, em árabe), o deslocamento em massa e a expulsão de centenas de milhares de palestinos de suas casas após a criação do Estado de Israel em 1948. (Com AFP)