Pesquisadores identificaram um predador com três olhos que nadava nos oceanos da Terra há 506 milhões de anos, durante o período Cambriano. A descoberta foi anunciada na última quarta-feira (14/5) após análise de material já armazenado no Museu Real de Ontário, no Canadá. O animal, batizado de Mosura fentoni, pertence ao grupo dos radiodontes, uma ordem extinta de artrópodes marinhos.

O estudo sobre o Mosura fentoni foi publicado na revista científica Royal Society Open Science. O nome do animal faz referência à Mothra, criatura fictícia do cinema japonês que se assemelha a uma mariposa gigante, embora o espécime original tivesse dimensões comparáveis ao tamanho de um dedo humano.

Os fósseis foram encontrados na formação Burgess Shale, nas montanhas rochosas canadenses, região conhecida por preservar detalhes excepcionais em seus fósseis, incluindo tecidos moles e estruturas internas. Ao longo de 32 anos, entre 1990 e 2022, mais de 60 espécimes foram coletados e catalogados, com a maioria depositada no Museu Real de Ontário.

O animal apresentava características anatômicas distintas como garras, boca circular com dentes, nadadeiras laterais e brânquias alongadas na região posterior do corpo. Estas brânquias tinham função específica relacionada ao metabolismo do animal, maximizando a troca gasosa em ambientes com oxigênio e indicando que a espécie possuía metabolismo elevado.

O excelente estado de preservação dos fósseis permitiu aos pesquisadores observar detalhes do sistema nervoso, circulatório e digestivo do animal, algo raro em fósseis tão antigos.

"Pouquíssimos sítios fósseis no mundo oferecem esse nível de conhecimento sobre a anatomia interna mole. Podemos ver vestígios representando feixes de nervos nos olhos que estariam envolvidos no processamento de imagens, assim como em artrópodes vivos. Os detalhes são impressionantes", afirmou Jean-Bernard Caron, coautor do estudo e curador do departamento de paleontologia do Museu Real de Ontário, em comunicado.

O pesquisador também destacou a importância evolutiva da descoberta: "Os radiodontes foram o primeiro grupo de artrópodes a se ramificar na árvore evolutiva, fornecendo informações essenciais sobre as características ancestrais de todo o grupo. A nova espécie enfatiza que esses primeiros artrópodes já eram surpreendentemente diversos e estavam se adaptando de forma comparável aos seus parentes modernos distantes".