Os cardeais da Igreja Católica iniciam o processo de escolha do sucessor do papa Francisco nesta quarta-feira (7) na Capela Sistina, no Vaticano. O conclave atual oferece condições de hospedagem superiores às enfrentadas em processos históricos, com os religiosos alojados na Residência de Santa Marta, que dispõe de quase 100 suítes e cerca de 20 quartos individuais.

O termo "conclave" deriva da expressão latina "cum clave", que significa "com chave", refletindo o isolamento imposto aos cardeais durante o processo de votação. Esta prática de confinamento foi estabelecida para garantir uma decisão mais rápida e livre de interferências externas.

Em 1059, o papa Nicolau II concedeu aos cardeais o poder exclusivo de eleger o pontífice, centralizando uma decisão que anteriormente envolvia o clero e a nobreza romana. A Capela Sistina sedia ininterruptamente estas eleições desde 1878, embora anteriormente os conclaves ocorressem em diversos locais.

O conclave mais longo da história durou quase três anos após a morte do papa Clemente IV em novembro de 1268. Os cardeais permaneceram no palácio papal de Viterbo, próximo a Roma, até setembro de 1271, quando finalmente elegeram Teobaldo Visconti, que se tornou o papa Gregório X.

Em resposta à sua própria eleição demorada, Gregório X estabeleceu regras rigorosas para os conclaves. Ele determinou que os cardeais deveriam se reunir 10 dias após a morte do papa anterior e instituiu um racionamento progressivo de alimentos para acelerar a decisão.

"Subornos em larga escala de funcionários reais e senadores influentes" marcaram uma das eleições mais controversas, ocorrida em 532 após a morte de Bonifácio II, conforme registrado na obra "Chronicle of the Popes" (Crônica dos Papas, em tradução livre para português).

Em 1241, outro conclave problemático aconteceu quando o chefe do governo romano confinou os cardeais em um edifício deteriorado por 70 dias, negando-lhes acesso a médicos e serviços básicos. Após esse período, Goffredo Castiglioni foi eleito como Celestino IV.

Até recentemente, os cardeais dormiam em catres dentro de cubículos temporários no Palácio Apostólico, com instalações sanitárias limitadas - um banheiro para cada 10 cardeais. Em agosto de 1978, durante um conclave no verão romano, os cardeais protestaram contra as janelas fechadas devido ao calor intenso.

Embora os cardeais sejam os protagonistas destas eleições, tecnicamente qualquer homem batizado pode se tornar papa. O último pontífice eleito que não era cardeal foi Bartolomeo Prignano, arcebispo de Bari, que se tornou o papa Urbano VI em 1378.

Em 236, Fabiano foi escolhido papa após um evento considerado milagroso. Segundo o historiador Eusébio, "Naquele momento, todos, como se movidos por uma única inspiração divina, gritaram com entusiasmo e de todo o coração que Fabiano era digno" quando uma pomba branca pousou em sua cabeça durante debates sobre candidatos. O imperador romano Décio o executou 14 anos depois.

Quando Albino Luciani foi eleito como João Paulo I em 1978, suas primeiras palavras foram: "Que Deus os perdoe pelo que fizeram". Seu pontificado durou apenas 33 dias.

As celebrações após a eleição papal também têm suas tradições. Em 1978, João Paulo II serviu pessoalmente champanhe aos cardeais e cantou canções folclóricas polonesas após sua primeira aparição na Praça de São Pedro. Em 2005, Bento XVI convidou os cardeais para um jantar com champanhe que também incluiu momentos de canto, conforme relatado pelo então cardeal britânico Cormac Murphy-O'Connor.

Com informações de AFP.