O julgamento da australiana Erin Patterson, de 50 anos, acusada de envenenar quatro pessoas com cogumelos mortais, entrou em sua fase final nesta semana, com o júri prestes a iniciar as deliberações. O caso trata da morte de três pessoas e da tentativa de homicídio de uma quarta, durante um almoço em julho de 2023, na casa da acusada.

Na terça-feira (25), o juiz Christopher Beale deu início ao segundo dia de instruções aos 14 membros do júri, que precisarão chegar a um veredito unânime. Conforme informações do RNZ, o magistrado alertou que não há prazo definido para a decisão.

A promotoria alega que Patterson colheu deliberadamente cogumelos do tipo death cap (chapéu-da-morte, em português) – entre os mais venenosos do mundo – e os adicionou a porções individuais de Bife Wellington servidas aos convidados. A defesa nega a acusação e afirma que as mortes foram um “terrível acidente”.

Depoimento e contradições

Na sexta semana de julgamento na Suprema Corte de Victoria, Patterson passou o dia no banco das testemunhas e reafirmou sua inocência. Ela responde por três acusações de homicídio – da sogra Gail Patterson, do sogro Donald Patterson e da cunhada Heather Wilkinson – e por tentativa de homicídio de Ian Wilkinson, marido de Heather, único sobrevivente.

Durante o depoimento, a acusada afirmou que tinha boas relações com seus ex-sogros, apesar de mensagens enviadas a amigos em 2022 indicarem o contrário. “Eles me tratavam como sua própria filha”, declarou. Contudo, a promotora Nanette Rogers apresentou trechos de mensagens com insultos direcionados à família, incluindo: “f***-se eles”.

Outro ponto abordado no tribunal foi o motivo do almoço. Patterson teria afirmado aos convidados que queria discutir problemas médicos após supostamente descobrir um caroço no cotovelo. Ian Wilkinson relatou que ela mencionou estar com câncer. No depoimento, Patterson admitiu que mentiu. “Não tenho orgulho disso, mas os levei a acreditar que eu poderia precisar de algum tratamento”, disse, negando ter mencionado a palavra "câncer".

Uso de cogumelos e destruição de evidências

A acusada afirmou que começou a coletar cogumelos silvestres em 2020, utilizando grupos no Facebook para identificá-los. Ela comprou um desidratador em abril de 2023, mas nega ter usado cogumelos death cap. “Parecia um pouco sem graça para mim, então decidi colocar os cogumelos secos que eu havia comprado do comerciante”, justificou sobre o preparo do prato.

Após o episódio, Patterson descartou o desidratador e restaurou o celular às configurações de fábrica. “Sabia que havia fotos de cogumelos e entrei em pânico”, afirmou. Mesmo assim, a promotoria conseguiu recuperar imagens mostrando cogumelos silvestres sendo pesados em uma balança em abril daquele ano.

Ela também admitiu que não alertou ninguém sobre o uso dos cogumelos após o almoço. Só começou a considerar a hipótese de contaminação acidental depois de uma conversa com o ex-marido, Simon Patterson, no hospital. "Fiquei realmente preocupada porque a Proteção Infantil estava envolvida e Simon parecia pensar que talvez isso fosse intencional. Fiquei com muito medo".

Histórico do caso

O almoço ocorreu em julho de 2023. Gail e Heather morreram em 4 de agosto, Donald no dia seguinte. Ian Wilkinson sobreviveu após semanas internado e recebeu alta em setembro. Simon Patterson, ex-marido de Erin, havia sido convidado, mas recusou na véspera.

O casal se separou definitivamente em 2015, mas manteve contato por causa dos filhos. A relação entre Erin e a família do ex-marido teria se deteriorado em 2022 devido a disputas financeiras. Se condenada, Erin Patterson poderá cumprir pena de prisão perpétua.