A brasileira Juliana Marins foi encontrada morta após quatro dias de buscas no monte Rinjani, na Indonésia, país que ela visitava durante um mochilão pela Ásia. A publicitária de 26 anos caiu durante uma trilha no segundo maior vulcão do país, e a demora no processo de resgate gerou questionamentos sobre a eficiência das equipes de salvamento locais.
Familiares de Juliana manifestaram indignação através de conta criada nas redes sociais para divulgar o caso. "Juliana sofreu uma grande negligência por parte da equipe de resgate. Se a equipe tivesse chegado até ela dentro do prazo estimado de 7h, Juliana ainda estaria viva", publicaram. Em outra mensagem, afirmaram que "Juliana merecia muito mais" e que vão "atrás de justiça por ela, porque é o que ela merece!"
Histórico de acidentes e condições perigosas
O monte indonésio atrai numerosos turistas aventureiros, apesar dos desafios que apresenta. Juliana foi o décimo caso de morte no local desde 2020, tendo o número de acidentes (fatais ou não) aumentado no período. A área onde ocorreu a queda possui um caminho estreito de aproximadamente um metro de largura, com um trecho particularmente íngreme, que exige atenção redobrada dos montanhistas.
A região do acidente apresenta características geográficas desafiadoras. À esquerda do caminho há um penhasco de 45 graus e, à direita, uma queda acentuada. A área próxima a Sembalun, no trajeto para o cume, fica frequentemente coberta por névoa densa no final da tarde, comprometendo a visibilidade — ponto que teria afetado a atuação de equipes de resgate.
Críticas à operação de resgate
O guia Mustaal, de 45 anos, que trabalha com trilhas no Rinjani desde 2000, destacou em entrevista à BBC Indonesia as deficiências nos equipamentos de resgate. "As cordas não eram longas o suficiente. Isso não deveria acontecer. No futuro, todas as cordas — de 500 metros, 600 metros — devem estar disponíveis no local", declarou. "Queremos salvar vidas, não recuperar corpos", enfatizou.
A Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas), por meio de seu diretor Mohamad Syafii, emitiu comunicado sobre as dificuldades enfrentadas durante a operação, principalmente devido às condições climáticas adversas. Segundo o órgão indonésio, houve comunicação constante com os familiares de Juliana.
Montanha desafiadora
O trecho final até o cume do Rinjani exige de 3 a 5 horas de caminhada em terreno aberto. A última hora é especialmente difícil devido ao solo arenoso instável, onde para cada dois passos à frente, o alpinista retrocede um, demandando grande resistência física.
De Sembalun Lawang até o cume, o terreno ultrapassa 3.000 metros de altitude e não possui cobertura de árvores. Os alpinistas ficam expostos a ventos fortes que tornam a subida perigosa. Para os carregadores, que transportam equipamentos pesados de até 25 kg, o desafio é ainda maior.
Alpinista e membro da Wanadri, a mais antiga organização de atividades ao ar livre da Indonésia, Ang Asep Sherpa classifica o Rinjani como uma montanha de nível "moderado", não "fácil". O especialista alerta para os riscos da exposição aos elementos naturais e o perigo de quedas fatais.
Incidentes anteriores
Mustaal relatou um episódio em que um turista australiano tropeçou durante a descida para o lago próximo ao vulcão. Nesse caso, a queda não foi profunda e o visitante conseguiu se recuperar e prosseguir com a caminhada.
Em 2025, o Rinjani já registrou duas mortes, incluindo um turista da Malásia na mesma rota onde Juliana sofreu o acidente. Outros visitantes também caíram na mesma área, mas sobreviveram. Esses incidentes, conforme análise dos alpinistas, evidenciam a necessidade de melhorias nos protocolos de segurança.
Demandas por melhorias
Um dos problemas identificados é que os equipamentos de resgate são geralmente trazidos de localidades distantes do Rinjani. Especialistas defendem a instalação de postos de emergência ao longo das principais rotas para proporcionar maior segurança aos montanhistas.
Galih Donikara, montanhista renomado na Indonésia, avaliou que a resposta ao acidente com Juliana foi "normal — com base na disponibilidade da equipe, equipamento e coordenação". O especialista defende que todas as montanhas deveriam ter procedimentos e equipes de resgate de emergência estabelecidos.
Segundo Donikara, os parques nacionais indonésios, incluindo Rinjani, Kerinci e Carstensz, precisam implementar coordenação de emergência padronizada. O problema não está nos padrões existentes, mas em sua implementação inadequada.
Translado do corpo
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE), também conhecido como Itamaraty, não pode bancar os custos do translado do corpo de Juliana Marins para o país de origem. O corpo da jovem só foi encontrado na terça-feira (24) e retirado do local nesta quarta (25), cinco dias após o desaparecimento.
Alexandre Pato, ex-jogador de futebol, afirmou que deseja custear o traslado do corpo da jovem para o Brasil. "Quero pagar esse valor para que todos tenham paz e para que ela possa descansar ao lado da família", declarou o ex-jogador ao perfil Alfinetei no Instagram.