O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, fez um pronunciamento de TV sobre a guerra contra Israel e os Estados Unidos nesta quinta (26/06), e disse que os norte-americanos "atingiram instalações nucleares" de seu país, "mas não alcançaram muita coisa".

O dado, sem evidência alguma, coloca água no moinho de especulações acerca da operação militar dos EUA que enviou sete bombardeiros furtivos ao radar B-2 em uma missão de 37 horas para atacar duas centrais do programa nuclear da teocracia - uma terceira foi alvejada por mísseis de cruzeiro lançados por um submarino.

A extensão do dano ao programa iraniano, motivo formal do ataque de Tel Aviv que disparou o conflito no dia 13 passado, é motivo de debate inflamado nos EUA.

O presidente Donald Trump e seu secretário de Defesa, Pete Hegseth, dizem que as instalações foram "obliteradas" e o programa que permitiria a Teerã construir bombas atômicas se desejasse, anulado.

Têm dúvidas o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, e toda a oposição democrata no Congresso, que pretende abrir uma investigação sobre o tema e a motivação da intervenção americana na guerra, no domingo passado (22/06).

Um relatório preliminar do Agência de Inteligência de Defesa sugere inclusive que o programa pode ter sido atrasado não em anos, mas em meses. Trump desconsiderou isso na quarta (25/06), mas admitiu que os dados eram inconclusivos.

Depois, amparado por "novos dados de inteligência" citados pela diretora de Segurança Nacional, Tulsi Gabbard, e pelo diretor da CIA, John Ratcliffe, o presidente voltou a dizer que o programa foi "devastado". As informações sugerem que as centrais de Fordow, Natanz e Isfahan foram destruídas e levariam anos para ser refeitas.

Em Israel, o premiê Benjamin Netanyahu celebrou que a guerra "mandou o programa nuclear iraniano para o ralo", mas o seu chefe de Estado-Maior, Eyal Zamir, foi mais cauteloso: o general disse que a guerra "atrasou em anos" a capacidade iraniana, mas não a anulou.

O fato é que ninguém sabe a verdade. O órgão que pode fazer tal avaliação de forma isenta, a Agência Internacional de Energia Atômica, já disse ser impossível dizer qualquer coisa sem inspeções físicas de seus técnicos.

Eles tiveram acesso e, dada a rusga com Teerã por ter decretado que o país estava descumprindo os acordos de transparência, o que foi usado por Israel para justificar seu ataque, não devem ter tão cedo.

Khamenei também não mostrou nada. O que o país já havia dito é que os 400 kg de urânio enriquecido a nível que já pode ser usado em bombas mais rudimentares, e próximo do necessário para uma explosão nuclear, estavam a salvo.

Além disso, Teerã havia dito ter removido diversos equipamentos das instalações atacadas, o que se for verdade significa que o enriquecimento pode continuar em outros lugares.

Assim como Trump e Netanyahu, o líder supremo cantou vitória no conflito com seus dois arquirrivais. Disse que os EUA só entraram na guerra porque "viram que Israel seria destruído", um exagero militar dada a grande degradação das capacidade de Teerã.

Também afirmou que "qualquer agressão futura virá grande custo" e celebrou o ataque retaliatório que promoveu na segunda (23/06), quando lançou 14 mísseis contra a base americana de Al-Udeid, em Doha. Não fez referência ao fato de que o Irã avisou os EUA e o Qatar da ação, permitindo o esvaziamento do local.

A encenação mútua permitiu a todos deixar o conflito se dizendo vencedores, como de fato ocorreu. As razões mais básicas dele continuam: dúvidas sobre a capacidade de os iranianos terem a bomba e o ódio existencial do regime contra Israel.

Apesar da fala de Khamenei, parece evidente que houve danos significativos às instalações, como a própria mídia estatal do país persa já disse. O debate agora será acerca de seu escopo.
Internamente, a teocracia já demonstra sua face repressora.

Desde o fim do conflito, na terça (24/06), 26 pessoas foram presas e 3, executadas sob acusação de espionar para Israel. A oposição local segue sob pressão, fragmentada.