A China deu início à construção da maior usina hidrelétrica do mundo, um megaprojeto avaliado em US$170 bilhões, nas montanhas remotas do Planalto Tibetano, ao longo do rio Yarlung Zangbo — conhecido como Brahmaputra na Índia. Segundo a Reuters, trata-se do maior projeto de infraestrutura energética do país desde a Barragem das Três Gargantas.

A obra prevê a construção de cinco usinas hidrelétricas em sequência ao longo de um trecho de 50 quilômetros do rio, aproveitando um desnível impressionante de 2.000 metros. Juntas, elas deverão somar 60 gigawatts (GW) de capacidade instalada – cerca do triplo da gigante das Três Gargantas – e gerar até 300 bilhões de kWh por ano, quantidade equivalente ao consumo anual de eletricidade do Reino Unido. A construção deverá avançar até a década de 2030.

O anúncio impulsionou o mercado financeiro chinês: ações de empresas como Power Construction Corporation of China e Arcplus Group PLC subiram até 10% após a divulgação. Segundo o Bloomberg, companhias de infraestrutura e equipamentos pesados também registraram alta, refletindo o otimismo do setor em torno da nova onda de obras públicas.

O governo chinês classifica o projeto como peça-chave em sua transição energética. A megausina será fundamental para atingir a meta de neutralidade de carbono até 2060, ampliando a oferta de energia limpa e reduzindo a dependência do carvão. Além disso, deverá contribuir para eletrificar regiões remotas do Tibete e estimular o crescimento de zonas menos desenvolvidas.

No entanto, a construção da usina não está isenta de controvérsias. Índia e Bangladesh, países situados a jusante do rio Brahmaputra, expressaram preocupação com os efeitos da barragem no fluxo natural da água e possíveis impactos na agricultura, abastecimento urbano e risco de inundações. O Ministério das Relações Exteriores da Índia reiterou pedidos para que Pequim compartilhe de forma transparente dados hidrológicos e considere as consequências transfronteiriças do projeto.

Ambientalistas também apontam riscos significativos. A região do Grande Dobramento do Yarlung Zangbo é considerada um hotspot de biodiversidade, com espécies raras e ecossistemas frágeis. Organizações como o International Rivers alertam que a barragem pode interromper rotas migratórias de peixes, causar o deslocamento de comunidades locais e agravar o risco ambiental em uma área geologicamente ativa. Até o momento, o governo chinês não divulgou estudos de impacto ambiental completos.

Especialistas também fazem referência ao legado da Barragem das Três Gargantas, concluída em 2012. Embora tenha ajudado a reduzir emissões de carbono, o projeto foi criticado por danos ambientais, desaparecimento de espécies e pelo deslocamento forçado de mais de 1,3 milhão de pessoas. Há temores de que erros semelhantes possam se repetir neste novo empreendimento de proporções ainda maiores.

A megausina no Tibete representa um marco tecnológico e energético para a China, mas levanta debates geopolíticos, ambientais e sociais que atravessam fronteiras. Seus impactos — positivos e negativos — devem se tornar mais evidentes à medida que a obra avança nas regiões montanhosas do Himalaia.

Fonte: Reuters, Bloomberg