Com o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializado nessa quarta-feira (30/7), um dos questionamentos que permanecem é: para onde irão os produtos fabricados no Brasil? As tarifas de 50% impostas pelo governo norte-americano vão exigir mudanças na comercialização de empresas de diversos setores, que podem focar outros mercados, como o sul-americano. No entanto, especialistas destacam que essa transição não é simples e nem rápida, além de ser bastante desafiadora. Nesta quarta-feira, foram anunciadas algumas exceções que não serão tarifadas, mas muitos produtos ficaram de fora, como carnes e café.
Especialista em comércio exterior e gerente de produtos da Saygo Comex, Stefânia Ladeira afirma que a primeira grande barreira está relacionada às regras dos outros países para o recebimento dos produtos. Embora as nações integrantes do Mercado Comum do Sul (Mercosul) facilitem a livre circulação de bens e serviços, cada membro tem seus órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, com suas regras próprias. Como as exigências mudam de país para país, as empresas brasileiras terão de adequar seus produtos para cada uma delas.
“Podemos citar como exemplo os pescados, que são muito comercializados para os Estados Unidos. Pode ser, por exemplo, que eles não atendam às regras sanitárias de outros países e será necessária uma adaptação. Por isso, principalmente os produtos que já estão ‘prontos’, podem não ser facilmente comercializados”, diz Stefânia.
Além disso, não serão só os produtos alimentícios que enfrentarão esse tipo de barreira. Conforme Stefânia ressalta, há também diversos itens de outra natureza que só têm o manual ou etiquetas em Inglês, por exemplo, e também precisarão de uma adequação. “Há, ainda, aqueles que já foram feitos para atender a pedidos e ao mercado específico”, diz ela.
A especialista em comércio exterior ainda destaca que é preciso avaliar a situação de cada país. A Argentina, por exemplo, já exporta vários produtos brasileiros e, conforme ela destaca, pode já ter chegado “ao seu máximo”.
Conselheira do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), Marisa Rossignoli complementa que é preciso avaliar também a situação econômica de cada país. Cada um deles tem sua própria produção, o que impacta nas importações. “É preciso encontrar os compradores, pois os outros países do Mercosul também têm suas demandas de produção e exportação. Existe, sim, algum espaço para aumentar as vendas, mas não é um destino certo, e demanda esforço e tempo. Não tem como fazer uma transferência do tipo: acabou para os EUA, vamos vender para o Mercosul”, afirma Marisa.
Tipos de produtos
Presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Tania Cristina Teixeira lembra que nem todos os produtos brasileiros que deixarão de ser exportados para os Estados Unidos podem ser redirecionados para o Mercosul. Isso porque, conforme ela ressalta, o Mercosul é o principal comprador de produtos industrializados do Brasil, e a exportação para os Estados Unidos está muito concentrada em produtos primários.
“O comércio intrarregional, no caso brasileiro, vem aumentando nos últimos 10 anos, mas ainda não é expressivo. Ao todo, foram US$ 20,2 bilhões em exportações (6% das exportações brasileiras) para o Mercosul e US$ 19,4 bilhões em importações (7,4% das importações), segundo dados do Ministério das Relações Exteriores. Destacam-se, dentro do bloco, o comércio de soja, veículos de passeio e energia elétrica”, afirma ela.
Caso a caso
Conforme a especialista em comércio exterior e gerente de produtos da Saygo Comex, Stefânia Ladeira, será necessário avaliar caso a caso, pois cada produto tem seu acordo e sua especificidade. “O governo brasileiro também pode intervir para que algumas barreiras sejam vencidas”, diz ela. “Em um primeiro momento, poderá haver retração, mas não quer dizer que as vendas deixarão de existir”, finaliza.