O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou nesta segunda-feira (7) as 15 primeiras cartas anunciando novos tarifas alfandegárias aos países com os quais não há avanços em acordos comerciais, e assegurou que Japão e Coreia do Sul terão taxas adicionais de 25%.

África do Sul, Malásia, Mianmar, Laos e Cazaquistão também receberam comunicados nos quais são advertidos sobre tarifas que variam entre 25% e 40%.

Trump afirmou que tomou essa medida porque as relações comerciais com Japão e Coreia estão, "infelizmente, longe de serem recíprocas", embora tenha se mostrado aberto a reconsiderar essas tarifas caso os países afetados mudem suas políticas fiscais em relação aos produtos norte-americanos.

O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, havia dito no domingo que não "cederia facilmente" nas conversas comerciais com Washington.

As tarifas estabelecidas nas últimas cartas do presidente entrarão em vigor em 1º de agosto, e a Casa Branca advertiu que poderá haver novos aumentos se os países afetados adotarem represálias contra os produtos norte-americanos.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, informou nesta segunda-feira que Trump vai assinar uma ordem para adiar de 9 de julho para 1º de agosto o prazo para alcançar um acordo com cada país e, assim, evitar a entrada em vigor de tarifas mais altas.

Trump havia anunciado em 2 de abril uma série de tarifas que chamou de recíprocas. Pouco depois, o presidente recuou diante do terremoto causado na economia: adiou a entrada em vigor para 9 de julho e impôs uma tarifa universal de 10%, bem menor que as chamadas recíprocas.

Embora o governo Trump tenha manifestado sua esperança de fechar dezenas de acordos antes de julho — em determinado momento chegou a se gabar de "90 acordos em 90 dias" —, até agora os resultados têm sido limitados.

Washington revelou apenas acordos com o Reino Unido e o Vietnã, enquanto Estados Unidos e China acordaram reduzir temporariamente as tarifas sobre os produtos da outra parte, que, em plena escalada comercial, chegaram a alcançar três dígitos.

A Bolsa de Nova York fechou em baixa após os anúncios desta segunda-feira. O índice industrial Dow Jones perdeu 0,94%, enquanto o tecnológico Nasdaq recuou 0,92% e o amplo S&P 500 caiu 0,79%.

Embora as tarifas agora pareçam "mais tangíveis" para o mercado, "ainda há oportunidades de negociação (...) e enquanto existirem, os investidores não vão reagir de forma radical", afirmou à AFP Steve Sosnick, analista da Interactive Brokers.

"Mudança de tom"

"Vamos fazer vários anúncios nas próximas 48 horas", disse o secretário do Tesouro, Scott Bessent, nesta segunda-feira em entrevista à CNBC.

"Muitos mudaram de tom nas negociações. Meu e-mail ontem à noite estava cheio de novas ofertas, muitas novas propostas", afirmou Bessent.

O secretário do Tesouro disse que nas cartas Trump lembrará aos países a alíquota da tarifa que seus produtos deverão pagar, a menos que queiram "voltar e tentar negociar".

Bessent prevê reunir-se com seu contraparte chinês nas próximas duas semanas.

Estados Unidos e China mantêm até agora negociações de alto nível em Genebra e Londres.

A Comissão Europeia informou que a chefe da UE, Ursula von der Leyen, teve no domingo uma "boa troca de ideias" com Trump sobre comércio.

Mas o presidente americano ameaçou com uma tarifa adicional de 10% os países que se alinharem ao Brics, depois de o bloco expressar sua "séria preocupação" com medidas tarifárias unilaterais que "distorcem o comércio" mundial.

Trump classificou o bloco fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — hoje com onze países — como "antiamericano".

Suas declarações foram imediatamente rebatidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo país sedia nesta segunda-feira a cúpula do Brics.

"Não queremos imperador", afirmou Lula. "Se [Trump] achar que ele pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade", advertiu em entrevista coletiva.