Milhares de manifestantes saíram, neste domingo (17), às ruas de diversas cidades de Israel para pedir ao governo uma trégua em Gaza que garanta a liberação dos reféns, uma reivindicação rejeitada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Bloqueios de estradas em diversas localidades, pneus em chamas e alguns confrontos com as forças de segurança marcaram o dia de mobilização, convocado por familiares dos reféns.

Uma imensa bandeira israelense com os retratos dos sequestrados foi estendida na chamada "praça dos reféns" em Tel Aviv, que se transformou em ponto de encontro desde o início da guerra, que eclodiu em 7 de outubro de 2023 com o ataque sem precedentes do Hamas em Israel.

Apesar da pressão crescente, o governo israelense mantém sua determinação em expandir sua ofensiva na Faixa de Gaza para acabar com o movimento islamista palestino Hamas e assumir o controle da segurança em todo o território, que permanece sitiado e faminto após quase dois anos de guerra.

Neste domingo, 18 pessoas morreram no território palestino, conforme dados da Defesa Civil local.

"Aqueles que hoje pedem o fim da guerra sem uma derrota do Hamas não só fortalecem a posição do Hamas e afastam a libertação de nossos reféns, como também garantem que os horrores de 7 de outubro se repitam uma e outra vez, e que teremos que lutar uma guerra sem fim", afirmou Netanyahu em uma reunião de gabinete.

Segundo a rádio militar israelense, o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, se reunirá neste domingo com responsáveis militares para discutir o plano que prevê a tomada de controle da Cidade de Gaza com o objetivo declarado de derrotar o Hamas e liberar os reféns ainda cativos no território.

Este anúncio gerou medo nas famílias dos reféns, que temem que seus entes queridos morram na operação, e exigem um acordo negociado para a libertação de todos os sequestrados.

"Tragam todos de volta"

O Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos, principal grupo de familiares dos sequestrados, assim como a oposição e parte do setor econômico e sindical, convocou uma greve de solidariedade aos reféns para este domingo, primeiro dia da semana em Israel.

No entanto, a maioria dos comércios permaneceu aberta em Jerusalém e Tel Aviv, segundo verificaram jornalistas da AFP.

Em várias cidades do país, milhares de pessoas se manifestaram nas ruas, bloqueando importantes rodovias, especialmente a estrada que liga Tel Aviv à Cidade Santa.

Pela manhã, dezenas de pessoas pediam em frente à residência de Netanyahu em Jerusalém, para "terminar a guerra" e "trazer todos [os reféns] de volta".

O epicentro dos protestos ocorrerá no fim da tarde em Tel Aviv, onde manifestantes com retratos dos sequestrados, bandeiras israelenses e cartazes amarelos (a cor símbolo dos reféns) começaram a se reunir na "praça dos reféns".

"Estamos fazendo todo o possível para trazê-los de volta (...) Podemos ter discordâncias, mas a verdade é que todo o povo de Israel quer que nossos irmãos e irmãs voltem para casa", declarou na praça o presidente israelense, Isaac Herzog.

"E quero dizer ao mundo: (...) Pressionem o Hamas", acrescentou.

"Se não os trouxermos de volta agora, os perderemos para sempre", alertou, por sua vez, o Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos.

Milhares de agentes das forças de segurança foram mobilizados em todo o país, indicou a polícia, que prendeu 32 manifestantes por distúrbios da ordem pública e por restrição à liberdade de circulação.

"Uma recompensa para o inimigo"

Apoiadores de Netanyahu e da extrema direita criticaram duramente o movimento.

"Bloquear as principais rodovias de Israel e perturbar a vida dos cidadãos é um grave erro e uma recompensa para o inimigo", lamentou o ministro da Cultura, Miki Zohar.

O ministro das Finanças e figura da extrema direita, Bezalel Smotrich, também denunciou uma "campanha (...) que segue o jogo do Hamas".

São "mensagens repugnantes", respondeu o chefe da oposição, Yair Lapid. "Não têm vergonha?", acrescentou.

Dos 251 reféns capturados no ataque de 7 de outubro, 49 ainda estão cativos em Gaza, dos quais 27 teriam morrido, segundo o Exército israelense.

O Hamas e a Jihad Islâmica divulgaram no início de agosto vídeos de dois reféns israelenses magros e enfraquecidos que consternaram a sociedade israelense e reavivaram o debate sobre a necessidade de um acordo para sua libertação.

O ataque de 7 de outubro causou a morte de 1.219 pessoas no lado israelense, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais.

A operação israelense em Gaza já causou 61.944 mortes, sobretudo civis, segundo os dados do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pela ONU.