O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou que seu primeiro encontro com Vladimir Putin desde o início da invasão russa pode acontecer nas próximas semanas, mas somente após as potências ocidentais definirem as garantias de segurança para seu país. "Queremos entender como ficará a arquitetura das garantias de segurança, dentro de sete a 10 dias", afirmou Zelensky na quarta-feira (20/8) em entrevista a vários meios de comunicação, mas que estava sob embargo até esta quinta-feira (21).

Após a definição das garantias, acrescentou, "deveríamos ter uma reunião bilateral (com Putin) em uma ou duas semanas", como deseja o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que poderia participar do encontro em um possível formato trilateral.

Ao falar sobre o possível local do encontro com Putin, ele mencionou Suíça e Áustria, dois países com tradição de neutralidade, e também a Turquia, país membro da Otan e sede das últimas negociações diretas entre delegações da Rússia e da Ucrânia, que não conseguiram alcançar um cessar-fogo.

A Suíça informou durante a semana que garantirá a imunidade do presidente da Rússia, objeto de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) pela suposta deportação de crianças ucranianas para território russo.

O presidente russo parece disposto a conversar presencialmente com seu homólogo ucraniano, mas o Kremlin diminuiu o entusiasmo de parte da comunidade internacional e afirmou que o encontro deverá ser preparado "minuciosamente".

Por outro lado, Zelensky descartou que a China, aliada de Moscou, possa ser um garantidor da segurança da Ucrânia, invadida por seu vizinho em fevereiro de 2022. "A China não nos ajudou a parar esta guerra desde o início" e "ajudou a Rússia, abrindo seu mercado de drones", comentou. "Não precisamos de garantidores que não ajudam a Ucrânia".

Atividade diplomática intensa 

Trump se reuniu nos últimos dias separadamente com os dois líderes, primeiro com Putin, na sexta-feira passada no Alasca, e depois com Zelensky, na Casa Branca, na segunda-feira. O encontro do Salão Oval também contou com as presenças dos governantes do Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Finlândia, além da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do secretário-geral da Otan, Mark Rutte.

Apesar da intensa atividade diplomática, o acordo sobre garantias de segurança não é algo fácil. Europeus e americanos apresentaram diferentes propostas, incluindo uma oferta à Ucrânia de garantias similares às registradas no artigo 5 do tratado constitutivo da Otan, que prevê uma defesa conjunta em caso de ataque.

Também mencionaram a possibilidade da presença de um contingente militar em território ucraniano, além de apoio aéreo, naval e de treinamento.

A Ucrânia insiste nas garantias porque teme que, mesmo após o anúncio de uma solução para o conflito atual, a Rússia volte a invadir o país. Por sua vez, o Kremlin insiste que é impensável incluir a Ucrânia na Otan e advertiu que suas próprias exigências de segurança devem ser levadas em consideração.

O ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, reiterou nesta quinta-feira que, para seu país, seria "absolutamente inaceitável" propor a presença de um contingente europeu na Ucrânia.

Nos Estados Unidos, o vice-presidente JD Vance pressionou a Europa e alertou que o continente deverá assumir "a maior parte do fardo" da segurança da Ucrânia. "É o continente deles. É a segurança deles, e o presidente (Donald Trump) foi muito claro: eles terão que dar um passo à frente", disse.

Reforço russo no sul 

À espera do encontro de cúpula, e para continuar ganhando terreno, as tropas russas intensificaram as operações na Ucrânia, em particular na região de Donetsk (leste), mas também em Dnipropetrovsk.

Na madrugada desta quinta-feira, a Rússia lançou 574 drones e 40 mísseis contra o território ucraniano em seu maior ataque nas últimas semanas. Os bombardeios deixaram dois mortos, um em Kherson e outro em Lviv, no oeste do país.

Zelensky alertou que Moscou está "reunindo tropas" na parte ocupada da região de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, visando uma possível operação.

O presidente ucraniano alertou que seu país, que ao longo do conflito atacou diversos alvos russos a centenas de quilômetros da linha de frente, testou "com sucesso" um míssil de longo alcance.

"É o nosso melhor míssil: pode voar 3.000 quilômetros, o que é significativo", declarou Zelensky.