A diretora Lisa Cook, do Federal Reserve, o Banco Central dos EUA (Fed), afirmou na noite de segunda-feira (25/8) que a sua demissão anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, não tem amparo legal e que também não vai renunciar ao posto.

"O presidente Trump alegou me demitir 'por justa causa' quando não existe justa causa conforme a lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo", afirmou a diretora em comunicado.

Trump anunciou a demissão de Cook nessa segunda-feira em suas redes sociais por suspeita de fraude na documentação de uma hipoteca, denúncia feita por um aliado do presidente e que a diretora nega.

"O povo americano precisa ter plena confiança na honestidade dos membros encarregados de definir políticas e supervisionar o Federal Reserve", afirmou Trump, que informou há duas semanas que aceitou a abertura de um processo para investigar a diretora.

Cook afirmou que não renunciará ao cargo, conforme solicitado pelo presidente dos EUA após anunciar a abertura do processo. "Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana como tenho feito desde 2022", informou a diretora.

Primeira mulher negra a fazer parte da diretoria do Fed, indicada em 2022 pelo ex-presidente Joe Biden, Cook foi acusada por William Pulte, diretor da Agência Federal de Financiamento da Habitação, de ter falsificado documentos e cometer fraude.

Pulte disse no X que Cook havia designado um condomínio em Atlanta como sua residência principal depois de tomar um empréstimo em sua casa no Michigan, que ela também declarou como residência principal. Pulte disse à CNBC que também está investigando uma propriedade que Cook tem em Massachusetts.

A diretora afirmou na ocasião que leva a sério qualquer questionamento sobre seu histórico financeiro como membro do Federal Reserve e que estava reunindo informações precisas para responder a qualquer pergunta legítima.

Cook é uma três diretoras do Fed com mandato que ultrapassa o período de governo de Trump. Ela foi uma das nove diretoras que votou pela manutenção da taxa de juros entre 4,25% e 4,5% na reunião realizada no fim de julho, em decisão que irritou Trump, que defende a redução da taxa em três pontos percentuais.

Na reunião, dois diretores (Christopher Waller e Michelle Bowman) defenderam a queda dos juros em 0,25 ponto percentual. Ambos foram indicados por Trump. Além deles, o presidente indicou Stephen Miran temporariamente para a diretoria, mas seu nome ainda precisa ser aprovado pelo Senado.

Na sexta-feira (22/8), Powell sinalizou em discurso um possível corte nos juros americanos na próxima reunião da autarquia, em setembro, embora ainda esteja cauteloso.

Presidentes americanos têm se desentendido com o Fed desde que a instituição ganhou independência do governo em 1951, mas a escala e o vigor da ofensiva de Trump não têm precedentes.

"Este (a demissão de Cook) é um ato extraordinário de agressão que viola a independência do Fed", disse Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell. "Trump agora declarou guerra aberta ao quadro institucional dos EUA, que sustenta a dominância do dólar nas finanças globais", avaliou.

Elizabeth Warren, a principal democrata no comitê bancário do Senado, chamou a intervenção de Trump de "uma tomada de poder autoritária que viola flagrantemente a Lei do Federal Reserve e deve ser anulada nos tribunais".

As ameaças anteriores de Trump de remover Powell de seu cargo antes do término de seu mandato como presidente em maio próximo foram ferozmente rejeitadas pelo banco central, que disse que a Casa Branca não tinha poder para fazê-lo.

Em uma opinião não relacionada ao banco central no início deste ano, a Suprema Corte disse que o presidente dos EUA não tinha autoridade para remover o presidente do Fed ou outros governadores.

"O presidente Trump recorreu às redes sociais para mais uma vez 'demitir por tuíte'", afirmou Abbe Lowell, que defenderá a diretora Lisa Cook no processo. "O reflexo de intimidar de Trump é falho e suas exigências carecem de qualquer processo adequado, base ou autoridade legal. Tomaremos todas as medidas necessárias para impedir sua tentativa de ação ilegal", complementou o advogado.

O Fed recusou-se a comentar a medida tomada por Trump e também as acusações feitas contra a diretora.