A canadense Ashley King perdeu 98% da visão após ingerir coquetéis de vodka contaminados com metanol durante viagem ao sul de Bali, na Indonésia. Em um ano sabático antes de iniciar a faculdade, ela consumiu as bebidas em um estabelecimento aparentemente sofisticado, sem suspeitar da presença da substância tóxica.
"Não foi diferente de qualquer outra noite que eu tive quando estava lá", declarou King, através do TikTok, sobre o momento em que consumiu a bebida adulterada. No dia seguinte, ela apresentou sintomas que pareciam de uma ressaca comum, mas seu quadro se agravou aproximadamente dois dias depois, quando chegou à Austrália.
Na alfândega, King percebeu que algo não estava normal. "Lembro-me de falar com as pessoas da alfândega e era como se eu estivesse bêbada. Eu não conseguia formar frases de uma maneira que soasse confiante", disse ela. O caso ocorreu em 2011, mas, 14 anos depois, a canadense ainda atua na conscientização sobre os riscos da substância.
A situação piorou drasticamente quando ela chegou à Nova Zelândia. Após dormir no hotel, King acordou ao meio-dia sem conseguir enxergar e com dificuldade para respirar. No hospital, exames de sangue detectaram metanol em seu organismo, em quantidade tão elevada que os médicos se surpreenderam por ela acordar.
Uma das abordagens terapêuticas utilizadas foi a administração de álcool etílico para ajudar seu corpo a eliminar o metanol. "Foi o jogo de bebida mais absurdo que já joguei. Quanto mais bêbada eu ficava, mais eu conseguia respirar, mais eu conseguia ver", afirmou King sobre o tratamento.
Quando o metanol entra no corpo, ele se transforma em formaldeído e ácido fórmico, compostos altamente tóxicos que tornam o sangue perigosamente ácido. Enquanto uma ressaca normal desaparece com o tempo, o envenenamento por metanol apresenta sintomas que se agravam progressivamente.
"Basta apenas 30 mililitros — um shot — para te matar, e 15 mililitros podem te deixar cego, causar falência de órgãos, danos ao fígado e até danos cerebrais", alertou King. Ela foi submetida a hemodiálise para filtrar resíduos do sangue e recebeu esteroides na tentativa de recuperar sua visão. Apesar dos esforços médicos, King permaneceu com apenas cerca de 2% de capacidade visual, que ela descreve como "como neve caindo ou uma tela de TV".
Outras vítimas
O caso de King não é isolado. Em dezembro de 2024, sete turistas foram hospitalizados em Fiji após consumirem bebidas contaminadas em um resort de luxo. Em novembro, seis jovens viajantes, incluindo um americano, morreram no Laos em circunstâncias semelhantes.
O Instituto de Metanol indica que o tratamento pode ser eficaz se iniciado dentro de 10 a 30 horas após a ingestão. Após esse período, as chances de recuperação diminuem e os danos podem se tornar permanentes. "O cheiro não é diferente e o sabor não é diferente do álcool que normalmente bebemos", explicou King sobre a dificuldade em identificar a presença do metanol nas bebidas.
O metanol é comumente utilizado em produtos domésticos e industriais, como gasolina, anticongelante e diluentes de tinta. No mercado negro, especialmente em países em desenvolvimento, é frequentemente adicionado ao álcool falsificado para aumentar o volume e maximizar os lucros.
Desde 2019, organizações de monitoramento documentaram mais de mil incidentes envolvendo metanol, que afetaram mais de 40 mil pessoas e resultaram em aproximadamente 14.200 mortes. Em situações de surto, a taxa de mortalidade geralmente varia entre 20% e 40%.
O continente asiático concentra a maior incidência de casos de envenenamento por metanol no mundo. Surtos são frequentemente registrados na Indonésia, Índia, Camboja, Vietnã e Filipinas.
No mês passado, a Embaixada dos EUA na Jordânia emitiu um alerta após uma série de óbitos relacionados ao metanol em bebidas locais. Uma das principais orientações é adquirir bebidas alcoólicas apenas em estabelecimentos licenciados, como lojas especializadas, bares, hotéis e mercados reconhecidos.