No distante reino da Espanha, o rei Juan Carlos de Borbón guarda um dos segredos mais polêmicos e silenciados da história da coroa espanhola: a morte de seu irmão Alfonso com um tiro disparado "acidentalmente" - segundo versão palaciana - pelo monarca Juan Carlos no dia 29 de março de 1956, em Estoril, Portugal, onde a família Borbón morou durante décadas. Porém, o historiador militar e coronel da reserva Amadeo Martínez Inglés, 73, mantém uma versão bem mais polêmica. O tiro não foi acidental, diz o autor do livro "El Último Borbón", lançado em fevereiro de 2008, na Espanha. Inglés sustenta sua "bomba" com informações obtidas durante os 25 anos em que ocupou os mais variados postos de alto comando do Exército espanhol até ser castigado por seus ideais republicanos nos anos 80.
Essa história é tema que aparece apenas em conversas informais naquele país. A imprensa espanhola, ao contrário da britânica, adota há décadas - mesmo após a morte do ditador Francisco Franco (1892-1975) - o silêncio sepulcral sobre qualquer assunto controverso que envolva os moradores do Palácio Real de Madri, principalmente sobre a morte de Alfonso.
Em entrevista à reportagem, o historiador contou que recebeu há um mês uma carta do Congresso espanhol em resposta à sua solicitação para que fosse criada uma comissão de investigação do homicídio. "Eles me dizem no documento que vão analisar o pedido, mas é bem provável que eles deem preferência ao silêncio administrativo", diz Inglés, contente por ter sido, pelo menos, respondido por representantes do governo socialista de José Luiz Zapatero. Inglés não se ilude porque ele obteve a mesma resposta da corte portuguesa em 2008, quando o historiador fez sua primeira solicitação de abertura do caso, já que a morte ocorreu em Portugal.
"Eu recebi então uma carta muito elegante do procurador geral de Portugal, falando que eles iam tramitar minha solicitação. Mas, poucas semanas depois, recebi outra carta, dizendo que eles arquivariam minha denúncia porque já se havia passado muito tempo", lembra Inglés, que garante ser o pesquisador espanhol que melhor investigou a biografia do rei Juan Carlos.
Ele se diz imune a qualquer ameaça da coroa espanhola por colecionar documentos valiosos do serviço secreto de inteligência das Forças Armadas da Espanha, além de cultivar uma amizade com o renomado e polêmico juiz Baltasar Garzón. "Garzón sempre me fala que, se algum dia eu for chamado, enfim, ele se põe ao meu lado", garante. Que Juan Carlos matou seu irmão é fato, inclusive reconhecido pela própria família Borbón. "Resta saber se foi premeditado ou por imprudência, coisa que duvido", diz Inglés. Sua consistente versão envolve sexo, sangue, poder e traição, elementos periódicos de qualquer família real.
Sexo. Dom Juan Carlos teve as mulheres que quis na cama que ele escolheu, diz o livro. "Todas as estrelas do espetáculo dos últimos 30 anos passaram por sua cama, estando submetidas a seus serviços sexuais". A mais popular foi a ex-miss Espanha Bárbara Rey, com quem, sustenta Inglés, o rei manteve relações íntimas durante 15 anos. "Essa mulher era praticamente funcionária do Estado espanhol. Era ele quem a sustentava. Ele lhe dava 1 milhão de pesetas (R$ 15.400) todos os meses". Essa mulher teve sua casa invadida após ameaçar a coroa com a divulgação de uns supostos vídeos gravados em que ela apareceria em companhia do rei. "Foi um escândalo na época. O caso foi imediatamente abafado", conta.
Sangue. Alfonso tinha 14 anos e Juan Carlos, 18. O primeiro era o preferido do pai, o conde de Barcelona, Juan de Borbón. "Ele era chamado, inclusive, de Senequita (alusão ao filósofo Sêneca, do Império Romano) por seu brilhantismo". Seu irmão mais velho era à época um jovem recém-ingressado na Academia de Cadetes de Zaragoza, "com amplo domínio em armamento". "Juan Carlos era limitado intelectualmente, mas muito ambicioso. Seus pais o mandaram estudar fora porque não tinham uma boa relação com esse filho. Isso já foi declarado pela própria família real no passado". Inclusive, conta, o pai dos jovens aristocratas chegou a estudar a possibilidade de quitar os direitos sucessórios do mais velho para transferi-lo ao pequeno. Pois naquele março de 1956, os dois irmãos "brincavam" num cômodo da casa de Estoril, quando um tiro é ouvido. Segundo versão oficial, o cadete Juan Carlos disparou acidentalmente uma arma de baixo calibre contra Senequita. A bala entrou por uma das narinas de Alfonso e o matou instantaneamente. O caso jamais foi investigado, mesmo com a pressão exercida pelo tio Jaime, que insistiu à época para que a verdade fosse revelada.
Poder e traição. Juan Carlos não era o preferido dos pais, mas o era do ditador Franco, que resolveu "adotá-lo" como aprendiz, caso a monarquia fosse restaurada. Ao caudilho não lhe interessava coroar Juan de Borbón e tampouco aquele primor de inteligência, Senequita. Pela hierarquia monárquica, pais sempre são reis antes dos filhos. Mas no caso espanhol, Juan Carlos foi coroado dias após a morte de Franco. Juan de Borbón, diz Inglés, caiu em depressão. "O pai se sentiu traído pelo filho mais velho e passou a ser visto então a bordo de seu iate, sempre bêbado. Ele queria ser rei, mas a aliança entre Franco e Juan Carlos prevaleceu", explica Inglés.
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