GUERRA

Após 4 meses, guerra na Ucrânia já resultou em 7,3 milhões de refugiados

Em um cenário mundial, o índice de refugiados já supera a população de 96 países; 4,8 milhões buscaram abrigo na Europa

Por Simon Nascimento
Publicado em 24 de junho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Fugir de um cenário de guerra pode parecer cena de filme para muitas pessoas, mas se tornou realidade para aproximadamente 7,3 milhões de ucranianos, que estão refugiados desde o início do conflito com a Rússia. Os embates entre as tropas completam quatro meses nesta sexta-feira (24) com uma escalada da tensão política entre os governos de Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky com a possível adesão da Ucrânia à União Europeia.

As estimativas do número de pessoas em rota de fuga são da Agência para Refugiados da Organização das Nações Unidas (Acnur). Considerando a população da Ucrânia, de 44,1 milhões de habitantes, cerca de 16% dos cidadãos deixaram as cidades ucranianas desde fevereiro. Em um cenário mundial, o índice de refugiados já supera a população de 96 países. 

Um balanço feito pela ONU aponta que pelo menos 4,8 milhões de pessoas refugiadas da Ucrânia conseguiram abrigo na Europa. O dado considera pessoas que primeiro cruzaram a fronteira para países vizinhos, mas que buscaram outros endereços posteriormente. O Alto Comissário Assistente para Operações da Acnur, Raouf Mazou, disse, em artigo publicado pelo órgão, que a guerra provocou uma das maiores crises de deslocamentos forçados da história. 

O representante do órgão afirmou, entretanto, que a acolhida dos países tem sido extraordinária. Um painel foi criado pela agência para coletar e analisar dados sobre os refugiados. “Isto é crucial para assegurar uma resposta humanitária eficaz, permitindo a nós e aos nossos parceiros responder às necessidades críticas com apoio específico, e elaborar um plano melhor para o futuro”, disse. 

 

Até o momento, informa o órgão, cerca de 2,3 milhões de ucranianos retornaram ao país. Mas, “encontraram suas casas gravemente danificadas e lutaram para buscar emprego – já que a guerra continua tendo um impacto econômico devastador – e não tiveram outra escolha senão se deslocarem novamente”, destaca. 

Imprevisibilidade

Uma das principais alegações de Vladimir Putin para deflagrar o conflito, a adesão da Ucrânia à União Europeia ganhou mais um capítulo importante nesta quinta-feira. O bloco colegiado concedeu  ao país comandado por Zelensky o status de candidato a integrar o órgão. 

A decisão, inclusive, foi celebrada pelo presidente ucraniano. "É um momento único e histórico nas relações entre Ucrânia e UE", tuitou Zelensky, acrescentando que "o futuro da Ucrânia se encontra no seio da UE". Com as negociações avançadas, os russos respondem com intensificação dos ataques nas regiões de Kharkiv, Donetsk e Donbass. 

Para o professor da Fundação Dom Cabral Paulo Vicente, o cenário político na região favorece à manutenção do conflito. Na avaliação dele, os embates vão perdurar ainda por alguns anos. “Mesmo que haja um cessar fogo dos russos de maneira unilateral, ninguém mais confia nos russos, porque todos os acordos feitos nos últimos 30 anos foram rasgados”, disse o docente ao relembrar o descumprimento de acordos como o de Minsk e de independência dos Estados Bálticos.

A saída de Putin do Kremlin, inclusive, seria o caminho mais fácil para pôr fim ao conflito. “Putin quer reescrever a história do jeito dele e os países não vão permitir. É uma região que tem mais de 100 anos de conflito e que não tem paz e nem terá por um longo tempo”, acrescenta. 

A imprevisibilidade também segue a análise de Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas. Ele lembrou que as análises iniciais não previam longevidade no conflito em função das sanções aplicadas aos russos e da capacidade de resistência dos ucranianos aos ataques. “Não faz sentido convidar a Ucrânia para a União Europeia e Otan nesse momento. É um país que está se tornando destruído pela guerra”, observa. 

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