Breakthrough Prize

Cientista descobre lugar do gene paternal no cérebro e recebe R$ 15,9 milhões

Descoberta que pode ajudar a entender melhor os papéis desempenhados por mamíferos, incluindo homens e mulheres

Por AFP
Publicado em 10 de setembro de 2020 | 17:17
 
 
 
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A neurobióloga francesa atuante em Harvard, Catherine Dulac, recebeu nesta quinta-feira (10) um prêmio científico de US$ 3 milhões, cerca de R$ 15, 9 milhões, o Breakthrough Prize, por descobrir onde está o instinto paternal no cérebro do rato, uma descoberta que pode ajudar a entender melhor os papéis desempenhados por mamíferos, incluindo homens e mulheres. 

Os ganhadores de 2021 do prêmio criado por empreendedores do Vale do Silício foram anunciados nesta quinta-feira. 

Seis outros cientistas foram premiados em ciências da vida, física básica e matemática, e cada um receberá três milhões de dólares por trabalho considerados como um "grande avanço" (o significado em português do nome da premiação). O valor a ser recebido é três vezes maior que o do Prêmio Nobel.

Catherine Dulac é professora e diretora do laboratório em Harvard e no Howard Hughes Medical Institute, e o trabalho premiado é por ter identificado os circuitos neurais no cérebro que instintivamente comandam uma fêmea de camundongo por cuidar de filhotes de camundongos, e os de um camundongo macho que tenta atacá-los, dependendo das circunstâncias (o comportamento infanticida é típico dos homens). 

Sua maior contribuição é ter mostrado que fêmeas e machos têm em sua configuração, cada um, os circuitos comportamentais de ambos os gêneros. A diferença é que seus hormônios ativam um ou outro circuito, como um interruptor. 

Às vezes, é o outro circuito que entra em ação, fazendo uma mãe estressada matar seus filhotes ou um macho a cuidar dos seus filhos quando ele se torna pai.

"Acreditamos que a nossa descoberta pode ser estendida a outras espécies", incluindo os seres humanos, disse à AFP Dulac, de 57 anos, que vive nos Estados Unidos há 25 anos. 

"Existe um instinto, e o instinto é justamente o funcionamento desses neurônios. Eles estão, imagino, no cérebro de todos os mamíferos, e dizem ao animal quando há sinais da presença de recém-nascidos: 'Você tem que cuidar deles'", explica a cientista.

Problemas transgênero 

Embora limitado a camundongos, como enfatizado pela cientista, esse trabalho fundamental de pesquisa é de grande interesse para quem trabalha com questões transgênero, uma vez que a pesquisa argumenta que há circuitos masculinos e femininos em todos (pelo menos entre os camundongos). 

Famílias ou aliados de pessoas trans costumam aproximar-se de Dulac para agradecê-la. "Sou uma cientista, enxergo os dados, sou neutra", afirma ela, embora admita estar "muito emocionada". "Com isso, digo: sou útil".

Quanto ao dinheiro do prêmio, a cientista afirma que doará uma parte para causas relacionadas a saúde e educação de mulheres e populações carentes. 

Natural de Montpellier e formada pela École Normale Supérieure, a princípio Dulac foi para os Estados Unidos após o doutorado com a firme intenção de retornar à França. 

"No entanto, meu pós-doutorado funcionou muito bem, tive a oportunidade de ter meu próprio laboratório nos Estados Unidos, e não tive nenhuma oportunidade de ter meu próprio laboratório na França", afirma. 

"Lá (na França) realmente me deparei com uma espécie de comportamento paternalista estúpido, se posso dizer dessa forma, onde as pessoas diziam, 'você é muito jovem para ter seu próprio orçamento, você não tem experiência suficiente para ser independente'", acrescenta a ganhadora do prêmio. 

Assim, Dulac optou por Harvard e obteve a dupla cidadania. 

A cientista acredita que os Estados Unidos estão anos à frente da França na promoção ativa da igualdade de gênero, mas regularmente, em conferências, relata ser subestimada ou negligenciada nas conversas com seus colegas homens. 

"É irritante, não se espera que eu tenha algo interessante a dizer", ressalta a cientista

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