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Egípcio procurado pelo FBI é perseguido político e irá à PF, diz advogado

Mohamed Ahmed é empresário em São Paulo e integra o movimento Al-Gama'aal-Islamiya Egypt, que apoiava o ex-presidente Mohamed Mursi

Por Folhapress
Publicado em 13 de agosto de 2019 | 21:15
 
 
 
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O egípcio Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, que vive no Brasil e é procurado pelo FBI (a polícia federal americana) por supostas ligações com a rede terrorista islâmica Al-Qaeda, é um perseguido político e vai prestar esclarecimentos à Polícia Federal, afirma seu advogado, Musslim Ronaldo Vaz.

Segundo Vaz, Ibrahim vive no Brasil desde fevereiro de 2017, é casado com uma brasileira e tem uma empresa do ramo moveleiro em São Paulo. Antes, morou na Turquia.
Ele afirma que seu cliente é de um movimento chamado Al-Gama'aal-Islamiya Egypt, que apoiava o ex-presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, deposto em 2013.

"Com a queda de Mursi, houve uma mudança no sistema jurídico, e o partido foi criminalizado. Outras pessoas desse partido foram presas e mortas ou fugiram do país", diz, acrescentando que foi o governo do Egito que passou a informação sobre seu cliente e sobre outros opositores para o FBI.

A Al-Gama'aal-Islamiya Egypt integra a lista de organizações consideradas terroristas pelo Departamento de Estado dos EUA.
Ibrahim é solicitante de refúgio e aguarda a análise de seu pedido pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), ligado ao Ministério da Justiça.

Na segunda-feira (12), antes de ser divulgado que o FBI o procura, ele já havia estado na PF para resolver questões burocráticas ligadas à sua documentação no Brasil, afirma seu advogado.
"Ele foi à PF à tarde, chegou em casa depois do trabalho, sentou para jantar e viu o nome dele (no noticiário). Disseram que ele é perigoso, que está armado, o que não tem cabimento."

Segundo Vaz, não há acusação formal por parte do FBI contra seu cliente, mas já está agendada com a PF a data e o horário em que ele irá prestar esclarecimentos. O advogado, no entanto, não quis informar quando o depoimento será feito. 

"Essa acusação de ligação terrorista não existe. Ele é tão somente um homem de um partido político que foi criminalizado e em nenhum momento atentou contra a nação norte-americana ou nenhuma outra nação", afirma.

O advogado diz ainda que, por não ter cometido crime nos EUA, Ibrahim não deveria ser enviado para lá. "E se ele for para o Egito, o risco de tortura ou de morte é muito grande", diz. 

Cartaz de 'Procura-se'

Um anúncio feito pelo FBI e divulgado pelo Ministério da Justiça diz que o suspeito deve ser considerado "armado e perigoso".

O cartaz de "procura-se" divulgado pelo FBI também informa que o suspeito tem cabelos negros, pele clara, olhos castanhos, entre 73 kg e 77 kg, entre 1,83 m e 1,88 m, que é magro, está em boa forma física e "usa barba aparada". 

"Se você tiver qualquer informação sobre esta pessoa, por favor entre em contato com o escritório do FBI ou com a Embaixada ou Consulado dos EUA mais próximos", diz o comunicado. 

O FBI afirma ainda que ele tem ligação com a rede terrorista ao menos desde 2013, mas o texto não explica de quais ataques exatamente o egípcio teria participado e nem qual teria sido seu papel nessas ações.

Ele é acusado de ter auxiliado no planejamento e na execução de ataques tanto contra os Estados Unidos quanto contra interesses americanos em outros países, além de oferecer apoio material para a Al-Qaeda. 

Rede terrorista

A Al-Qaeda foi criada no final dos anos 1980 pelo saudita Osama bin Laden e durante décadas foi o grupo terrorista mais temido do planeta, principalmente por ter sido a responsável pelo 11 de setembro. 

Desde a morte do fundador em 2011, porém, a rede tem perdido espaço, principalmente para o rival Estado Islâmico.

Recentemente o jornal "The New York Times" publicou reportagem na qual afirmava que o governo americano diz acreditar que Hamza bin Laden, filho de Osama e seu herdeiro no comando do grupo, também foi morto. 

O governo brasileiro afirma em seu comunicado que está disposto a colaborar com Washington no caso do egípcio, desde que dentro dos parâmetros estabelecidos na lei.

Deportação sumária

No final de julho, Moro assinou uma portaria, de número 666, que mudou as regras e passou a permitir a deportação sumária de estrangeiros considerados "perigosos" ou que tenham praticado ato "contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal".

Segundo o texto, ficam sujeitos a expulsão suspeitos de terrorismo, de integrar grupo criminoso organizado ou organização criminosa armada, entre outros casos. 

Cabe à autoridade migratória avaliar quem se enquadra no rol de pessoas consideradas perigosas, segundo a portaria. Para isso, deve-se levar em conta, entre outras coisas, "informação de inteligência proveniente de autoridade brasileira ou estrangeira" -como é o caso das informações do FBI.    

Uma semana antes da publicação da portaria, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou a assinatura de um compromisso de luta contra o terrorismo na América Latina. O documento teve a participação de 21 países, incluindo o Brasil. 

"Vim para dizer que estamos de volta à América Latina, e vamos ajudá-los a atacar o terrorismo", disse Pompeo na ocasião. "Os grupos terroristas estão se radicalizando e encontrando nossas vulnerabilidades. Na América Latina já foram detectados membros do Hizbullah atuando na Argentina, no Peru, no Brasil e no Paraguai", afirmou o secretário americano, sem apresentar evidências.

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