Os argentinos vão às urnas no próximo domingo (22/10) para escolher o novo presidente do país. Se houver necessidade de segundo turno, a votação será no dia 19 de novembro. O novo líder da Argentina terá grandes desafios, como o de tentar superar a crise econômica que o país enfrenta desde 2001.
Cinco candidatos vão disputar as eleições presidenciais de domingo: Sergio Massa, Javier Milei, Patricia Bullrich, Juan Schiaretti e Myriam Bregman. Entre os três principais favoritos, dois são de direita - Milei e Bullrich - e um é de esquerda - Massa, atual ministro da Economia.
Milei (A Liberdade Avança, extrema direita) foi o candidato com o maior percentual de votos nas prévias argentinas, em agosto, com 30,04% dos votos. Massa (União pela Pátria, de esquerda) foi o segundo colocado, com 21,4%; e Bullrich (Juntos pela Mudança, de direita) ficou em terceiro lugar, com 16,98%.
Nas últimas três pesquisas, Milei liderou as intenções de votos em duas e Massa ficou na frente em uma. Para vencer a eleição no primeiro turno, o candidato precisa ter 10% de vantagem sobre o segundo colocado, segundo as regras eleitorais da Argentina. Os três levantamentos indicam que a disputa vai para o segundo turno.
“O candidato do governo é o Sergio Massa, atual superministro da economia. Há ainda a candidata que vem da direita tradicional, da plataforma do ex-presidente Mauricio Macri, que é a Patrícia Burich. Ela foi ministra de segurança de Macri e vem com a plataforma mais forte em relação a essa questão. E tem o Milei, o candidato outsider, que apesar de já ter uma experiência na política, não faz parte dos partidos tradicionais. Ele vem com esse perfil de antipolítica, conseguindo atrair bastante uma rejeição à política tradicional dos argentinos”, analisa Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Resultados das últimas pesquisas eleitorais
Instituto Opina Argentina
- Javier Milei: entre 34% e 35%
- Sergio Massa: entre 29% e 30%
- Patrícia Bullrich: entre 24% e 25%
Instituto Synopsis Consultores
- Javier Milei: 36,5%
- Sergio Massa: 29,7%
- Patricia Bullrich: 23,8%
Instituto AtlasIntel
- Sergio Massa: 30,9%
- Javier Milei: 26,5%
- Patricia Bullrich: 24,4%
Principais propostas dos candidatos
As principais propostas dos três líderes nas pesquisas estão atreladas a dois temas: economia e segurança.
“Do ponto de vista de segurança, o Massa é o candidato que fala de prevenção, em reforma da Justiça para poder acelerar mais a questão dos julgamentos e processos, em instalação de câmeras, enfim, o objetivo dele é prevenir a violência. Já a Patrícia Burich tem uma postura de reação à criminalidade, ela fala na diminuição da maioridade penal para 14 anos, tem um perfil mais duro para a segurança. E do ponto de vista do Milei, não há aparentemente um grande pacote de segurança, ele efetivamente critica a delinquência da classe política e fala que vai fazer uma grande reforma”, explica o pesquisador da FGV.
Em relação à economia, os desafios são ainda maiores. Apesar de ser de um partido de esquerda e ligado ao kirchnerismo, Massa fala em reduzir impostos, proposta normalmente defendida pela direita.
“O Massa tem focado mais na ideia de tentar reorganizar a economia argentina com isenção de impostos para alguns grupos, especialmente para quem tem acima de um certo patamar de imposto de renda, o que é uma enorme renúncia fiscal, ainda mais no contexto em que a Argentina está com dificuldade de ajustar suas contas. Ele fala também em baixar impostos para importações e exportações, numa tentativa de reinserir a Argentina no mercado internacional e conseguir atrair mais dólares com exportações, que é uma necessidade muito grande do país para poder honrar seus compromissos internacionais", esclarece.
Já Patricia Bullrich tem feito campanha com fortes críticas à atual gestão da economia, comandada por Sergio Massa. Mas na visão do pesquisador da FGV, ela não é clara em relação às mudanças que faria, caso fosse eleita.
“A gente também não tem uma grande clareza em relação ao que Patricia Bullrich propõe, ela fala em fazer reformas, critica muito duramente o governo, a incompetência do Massa em conseguir frear a inflação. Ela basicamente fala em reformas, mas não especifica efetivamente qual é o passo a passo para poder lidar com isso”, diz Paz.
E Javier Milei aposta em propostas mais complexas para a economia argentina. Ele propõe, por exemplo, a dolarização completa do país e o fim do Banco Central, exatamente num momento em que a Argentina tem dificuldade na entrada de dólares.
“É uma proposta bastante ousada. Na cabeça dele, não há necessidade de emitir moeda se dolarizar a economia e o país não precisaria mais do Banco Central, ainda que a Argentina necessitaria de algum tipo de instância para organizar a economia em vários aspectos, como a questão da taxa de juros, a definição de regras para bancos, entre outras coisas. Então ele vai tentar, de certa maneira, liberalizar a economia, inclusive tentando desregulamentar uma série de setores como o financeiro e o bancário. Então a gente pode esperar que se o Milei for eleito, ele vai adotar uma agenda ultraliberal no sentido econômico”, avalia Leonardo Paz.
Milei também defende o rompimento com o Mercosul.
Crise econômica na Argentina
A economia argentina enfrenta várias crises desde 2001, quando o governo entrou em recessão, com alto índice de desemprego, e decidiu restringir os saques nos bancos, em meio a uma forte onda de protestos.
Desde então, a Argentina tenta se reerguer, mas sempre encontra muitos obstáculos, como a desvalorização do peso, a moeda oficial do país, causada pela escassez de dólares; uma das maiores taxas de inflação do planeta; e os fortes reflexos da pandemia de Covid-19.
“O que está em jogo é uma tentativa de recuperação dessa Argentina, que está numa situação de crise quase constante desde 2001. Até tem um momento em que a economia consegue performar um pouco melhor, em meados dos anos 2000, no governo de Néstor Kirchner (presidente entre 2003 a 2007), durante o superciclo das commodities, quando o país conseguiu ter uns poucos anos de superávit em quase 20 anos de déficit. Então é uma situação muito dramática, em que a economia da Argentina vem se deteriorando há muito tempo”, argumenta o especialista da FGV.
Depois de Néstor Kirchner, quem assumiu a presidência da Argentina foi a esposa dele, Cristina Kirchner, que ficou no poder de 2007 a 2015. Mauricio Macri foi o presidente entre 2016 e 2019. E o atual governante é Alberto Fernandez, com Cristina Kirchner na vice-presidência.