O gasto militar global disparou em 2023 e atingiu o maior patamar da história moderna, descontadas as duas guerras mundiais do século XX. No ano passado, os países gastaram um pouco mais do que um Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em defesa. A conta foi feita pelo IISS (sigla inglesa para Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), de Londres, divulgada ontem no seu anuário sobre o estado das Forças Armadas do planeta, o “Balanço Militar”.

O IISS apurou um crescimento de 9% nos gastos com armas no ano passado, chegando a US$ 2,2 trilhões (cerca de R$ 11 trilhões hoje). Em termos nominais e relativos, é o maior valor dos 65 anos da série histórica da publicação que, como estudos semelhantes, nunca viu tanto dinheiro sendo desembolsado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

A guerra entre Israel e Hamas; o conflito na Ucrânia, deflagrado pela Rússia; e as tensões crescentes entre China e Irã preveem “uma década mais perigosa”, alertou o IISS. A edição de 2024 do anuário observa que o mundo entrou em um “ambiente de segurança altamente volátil” em 2023.

Os Estados Unidos seguem como o país mais poderoso da história moderna. Em 2023, empenharam 41% do gasto militar total do planeta, seguidos pela China (10%) e a Rússia (5%). Tudo o que os americanos despendem no setor equivale a pouco mais do que o gasto dos 14 outros países do ranking juntos.

A aliança militar comandada por Washington, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), teve um aumento substancial de gastos, reflexo da guerra na Ucrânia: 8,5% do bolo total, excetuando os EUA. De acordo com o IISS, apenas dez dos 31 países membros da Otan cumprem objetivo de dedicar 10% do PIB ao gastos militares, embora 19 o tenham aumentado.

Na Europa, a Polônia tem prometido gastar 4% de seu PIB com defesa, enquanto a Alemanha despende 1,57%. Outro polo notável é a Índia, que ultrapassou o Reino Unido e assumiu o quarto lugar, com 3,3% da despesa global (US$ 73,6 bilhões).

No caso dos rivais dos EUA na Guerra Fria 2.0, o IISS ressalva que os chineses aplicaram o equivalente a US$ 407 bilhões e não os US$ 219,5 bilhões nominais. Os russos, US$ 296 bilhões na prática, e não US$ 108,5 bilhões. Para a Ucrânia, o cenário é o de dificuldades conhecidas. A guerra Israel-Hamas foi citada, com riscos de desdobramentos no já tenso Oriente Médio, onde os houthis atacam no mar Vermelho.

Brasil sobe em ranking de investimentos militares 

O Brasil subiu de 15 para 14 no ranking geral de gasto militar do mundo. Os dados do IISS são compatíveis, embora diferentes dos aferidos em termos de execução orçamentária. A diferença mais importante diz respeito ao fato de que 80% da despesa brasileira ter sido com pessoal ativo e inativo em 2023, item que não entra nas contas do padrão da Otan.

Entre as grandes potências, os EUA puxam a fila dos países no crescimento dos gastos, sendo responsáveis, em valores reais, por 22,2% do total. Em seguida vem a Rússia, que mais investiu. Foi um salto real de 18,6%, que levou a um gasto em proporção do PIB de 4,8%, refletindo a militarização de sua economia de olho em um conflito prolongado contra a Ucrânia, invadida há quase dois anos. “Hoje, os russos gastam um terço do que têm em defesa”, afirmou o diretor-geral do IISS, Bastian Giegerich. (Igor Gielow/FolhaPress)