Mais de 7.000 km separam o Brasil dos Estados Unidos. Mas é em Santa Bárbara D'Oeste, município no interior de São Paulo com 180 mil habitantes, que cerca de 60 membros descendentes de confederados norte-americanos mantêm viva a memória dos seus ancestrais, celebrando todo ano a herança do sangue americano e a chegada dos antepassados ao país.

O publicitário e presidente da associação Fraternidade e Descendência Americana, João Leopoldo Padovese, 36, é da quinta geração de uma das famílias (mais de 2.500 americanos) que desembarcaram na América do Sul, em 1865, após a Guerra de Secessão, que opôs o Sul e o Norte dos Estados Unidos – a mais cruel e sangrenta da América do Norte. O confronto custou mais de 600 mil vidas.

Os sulistas defendiam a supremacia branca e a escravatura e, por isso, o grupo ainda hoje é criticado por racismo e por ostentar a suástica, símbolo do nazismo. “Para nós, a bandeira confederada tem um significado totalmente diferente: família e história. Mas alguns grupos extremistas usaram essa bandeira para, inapropriadamente, praticar seu atos”, comenta.

No início do mês, um confronto deixou ao menos um morto e 33 feridos nos Estados Unidos. Um carro dirigido por um supremacista branco atropelou uma multidão de ativistas antirracismo em Charlotesville, na Virgínia. Os grupos de direita extremista e de neonazistas protestavam contra a remoção de uma estátua do general confederado Robert E. Lee – ideólogo da escravatura – em Charlottesville, no Estado da Virgínia.

Padovese também condena esse ato. “Qualquer coisa que acontece nos Estados Unidos acaba refletindo na gente, seja um ato desse, condenável, ou até uma simples eleição. Quem conhece o trabalho da fraternidade sabe que não temos ligação com os atos que estão acontecendo nos Estados Unidos”, diz ele, que nega ser racista.

O líder do grupo explica que foi a partir de 1954 que o Cemitério do Campo – onde foram enterrados os primeiros imigrantes –, passou a ser administrado pela ONG. “A fraternidade foi criada com a intenção de ficar responsável por fazer a manutenção do cemitério e manter a cultura dos costumes. Para quem tem dúvidas, fazemos visitas guisadas onde contamos sobre a história da imigração, da guerra civil e dos imigrantes no Brasil”, afirma.