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Guia para entender as eleições na Argentina, que acontecerão no domingo

Argentinos decidirão no domingo entre o retorno ao peronismo com Alberto Fernández ou a reeleição do presidente Mauricio Macri

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de outubro de 2019 | 10:48
 
 
 
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Em plena crise econômica e em um cenário de polarização política, a Argentina decide na eleição de domingo entre um possível retorno ao peronismo pela mão de Alberto Fernández ou a reeleição do presidente Mauricio Macri.

Cerca de 33,8 milhões de argentinos deverão ir às urnas para eleger presidente e vice-presidente para um mandato de quatro anos, que terá início no dia 10 de dezembro, e para renovar parcialmente a composição do Congresso, onde atualmente o governo não conta com maioria absoluta.

Se nenhum dos candidatos conseguir reunir ao menos 45% dos votos válidos ou 40% mais 10 pontos porcentuais de vantagem sobre o segundo mais votado, será realizado um segundo turno no dia 24 de novembro. Veja abaixo seis pontos para entender a eleição no país.

Mudança ou continuidade?

Ainda que haja seis candidatos na disputa presidencial, as eleições se apresentam como um duelo entre Macri, que tenta a reeleição à frente da coalizão Juntos por el Cambio, e o aspirante do peronista Frente de Todos, Alberto Fernández, que tem como candidata a vice a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015).

A votação de domingo é encarada como uma espécie de segundo turno após os resultados das eleições primárias realizadas em agosto, e as opções que poderiam ser uma terceira via entre o macrismo e o peronismo se apresentam com expectativas muito baixas.

Grupos fechados do Facebook tentam unir pessoas com ideologias políticas parecidas e têm somente as seguintes exigências: ser solteiro, peronista e kirchnerista

Macri, que chegou ao poder em 2015 após 12 anos de governos kirchneristas, busca um segundo mandato em um difícil cenário de recessão econômica, que já dura um ano e meio. O líder argentino pede agora mais tempo para resolver os problemas econômicos que assolam o país há décadas.

Por sua vez, Fernández, chefe de gabinete durante todo o governo de Néstor Kirchner (2003-2007) e os primeiros meses do primeiro mandato de Cristina, planeja um pacto econômico e social entre o Estado, empresários e sindicatos para “colocar a Argentina de pé”.

Crise econômica sacode o cenário eleitoral

Em 2018, a economia argentina entrou em um ciclo recessivo, o PIB caiu 2,5% e a inflação disparou 47%. A recessão econômica impactou em cheio os indicadores sociais e elevou a pobreza a 35,4% no primeiro semestre deste ano, o maior índice desde 2001, enquanto a taxa de desemprego subiu para 10,6%, a mais alta em 13 anos.

Este cenário econômico complicou as possibilidades de uma reeleição de Macri, que chegou ao poder com a promessa de alcançar “pobreza zero” e baixar a inflação, que tem um aumento acumulado de 37,7% nos primeiros nove meses do ano e a qual se espera que encerre 2019 em torno de 55%.

O descontentamento social em razão da crise econômica inclina a balança eleitoral para Alberto Fernández, que lidera as pesquisas realizadas até agora.

União do peronismo

Cristina Kirchner surpreendeu a todos em maio com sua decisão de ceder a candidatura presidencial a Alberto Fernández, que deixou o governo em 2008 e desde então se converteu em um dos maiores críticos da gestão dela. O confronto acabou sendo deixado de lado para unir o peronismo em sua tentativa de retornar à Casa Rosada.

Com esse movimento, o peronismo, muito dividido desde que perdeu as eleições em 2015, abriu as portas para captar os eleitores mais moderados de Cristina, que enfrenta várias acusações judiciais por suposta corrupção durante seu governo.

Macri também surpreendeu ao eleger como candidato a vice-presidente Miguel Ángel Pichetto, líder no Senado da maior parte da oposição peronista, quando todos os fatores apontavam que a fórmula ficaria completa com um membro da União Cívica Radical (UCR).

Nada decidido nas primárias

Ainda que se considerasse que nada seria decidido nas eleições primárias de agosto, já que todas as formações haviam definido suas candidaturas, a surpreendente margem de vantagem de 16 pontos porcentuais obtida por Fernández sobre Macri parece ter sacramentado esta eleição.

Macri, que espera ser o único presidente não peronista desde o retorno da democracia ao país a conseguir terminar seu mandato, que acaba no dia 10 de dezembro, apostava que teria um desempenho melhor nas primárias.

O resultado desencadeou uma tempestade financeira que se agravou com a crise econômica, o que prejudicou ainda mais as aspirações de Macri. Desde então, o peso teve uma depreciação de quase 29%, as reservas internacionais caíram de US$ 66 bilhões para US$ 48 bilhões, e a inflação disparou.

Campanha eleitoral atípica

Com Fernández dando por vencidas as eleições e Macri não se rendendo e confiando em um segundo turno, esta tem sido uma campanha eleitoral atípica na qual a maior ausência seja a de Cristina Kirchner, uma tática de campanha pensada estrategicamente, já que a imagem dela gera rejeição de parte do eleitorado.

Nesta campanha, o peronismo e o macrismo inverteram os papéis, e enquanto Fernández apenas participou de comícios e preferiu se reunir com distintos setores sociais e empresariais, o presidente Macri optou por se aproximar do povo em atos por diversas cidades do país.

A dívida argentina

O Fundo Monetário Internacional (FMI) se tornou o grande protagonista da eleição na Argentina após aceitar em 2018 dar auxílio financeiro ao país em troca de US$ 56,3 bilhões, o maior pacote da história do órgão, e que levou a um forte ajuste fiscal, muito criticado por Fernández.

O FMI já desembolsou à Argentina cerca de US$ 45 bilhões, mas deixou o restante do pagamento - inicialmente previsto para setembro - para depois das eleições, até que conheça os planos econômicos do vencedor.

No fim de setembro, a dívida da Argentina crescia a US$ 315 bilhões (equivalente a 68% do PIB), dos quais US$ 126 bilhões estão nas mãos de credores privados e US$ 75 bilhões correspondem a dívidas com órgãos internacionais.

O novo governo deverá renegociar os compromissos da dívida, já que será impossível para a Argentina honrar os pagamentos nos prazos inicialmente previstos. A dúvida é como cada candidato lidará com essa renegociação. 

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