Um juiz dos Estados Unidos se recusou neste sábado (20) a impedir a venda de um livro no qual John Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional de Donald Trump, descreve o presidente como corrupto e incompetente.

Com os exemplares já enviados para as livrarias, o juiz Royce Lambert não encontrou razões para bloquear o lançamento, e considerou que era tarde demais para emitir uma ordem de restrição solicitada pelo governo.

"Embora a conduta unilateral de Bolton levante sérias preocupações de segurança nacional, o governo não conseguiu estabelecer que uma liminar é um remédio apropriado", escreveu o juiz.

Lambert disse que uma revisão de trechos do livro que segundo o governo divulgam material confidencial o convenceu de que Bolton "provavelmente colocou em perigo a segurança nacional com a publicação". 

Apesar de se recusar a interromper a publicação, o magistrado sugeriu que Bolton perdesse os dois milhões de dólares que recebeu da editora para escrever o livro, mas se o governo apresentar uma ação legal separada do caso inicial.

Trump reagiu imediatamente descrevendo a decisão como uma vitória. "GRANDE GOLPE DA CORTE contra Bolton", escreveu o residente republicano no Twitter.

Trump considerou que, com o livro já distribuído e vazado para a mídia, o "juiz altamente respeitado" não teve como parar o processo, mas comemorou as "declarações e decisões fortes e poderosas do juiz".

"Bolton violou a lei e foi convocado e repreendido por isso, com um preço muito alto a pagar", tuitou o presidente americano. 

O advogado de Bolton, Charles Cooper, deu boas-vindas à decisão do juiz, mas questionou a conclusão de que seu cliente não cumpriu o acordo necessário com a Casa Branca para prosseguir com a publicação. 

"A história completa desses eventos ainda não foi contada, mas será", disse Cooper em comunicado.

O livro, com o título "The Room Where it Happened" (A Sala Onde Aconteceu), foi enviado às livrarias para o lançamento na terça-feira. Várias acusações feitas contra Trump na obra foram antecipadas pela imprensa.

Bolton descreve os 17 meses que trabalhou com Trump, até sua demissão em setembro do ano passado.

Trump chama o livro de "ficção"

De acordo com Bolton, republicano por toda a vida e que integra a ala mais à direita do partido, Trump "não é apto para o cargo".

Bolton afirma que Trump "suplicou" ao presidente chinês, Xi Jinping, durante as negociações comerciais para que Pequim aumentasse as compras de produtos agrícolas americanos, com o objetivo de conquistar votos nos estados agrícolas na eleição presidencial de novembro.

Bolton disse que Trump, um magnata do ramo imobiliário que ocupou seu primeiro cargo público ao assumir a presidência da maior potência do mundo, pensou que a Finlândia fazia parte da Rússia. 

Transgressões do presidente

Bolton também apoia as acusações apresentadas no ano passado contra Trump por suposta pressão exercida sobre a Ucrânia para descobrir informações que prejudicariam Joe Biden, seu rival democrata na corrida à reeleição. 

Ele foi ainda mais longe e garantiu que Trump cometeu outras "transgressões semelhantes às da Ucrânia" ao lidar com a política externa para benefício pessoal. 

As confissões sensacionalistas de alguém que por quase dois anos teve acesso direto e privilegiado ao mais alto nível abalaram a Casa Branca, aumentando as críticas que o governo recebe por lidar com a epidemia de coronavírus e as tensões raciais que atingem os Estados Unidos. 

O governo argumentou que Bolton violou as leis de sigilo porque os textos não foram examinados adequadamente. 

O vice-procurador-geral adjunto David Morrell disse que Bolton concordou em não publicar um livro com informações sigilosas "sem autorização por escrito". 

"Em troca de dinheiro, ele quebrou essa promessa" e não deve ser recompensado por isso, disse Morrell. 

Já Bolton elogia a liberdade de expressão e garante que o manuscrito foi submetido a um exame exaustivo pela Casa Branca, que simplesmente não gostou do conteúdo. 

Bolton é rejeitado pelos republicanos, que o apontam como um grande sabotador, e pelos democratas, que o culpam por não divulgar as informações que comprometem o presidente. 

A reação de Trump e seus fervorosos admiradores tem sido feroz. O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, chamou Bolton de traidor. 

Menos diplomático, Trump chamou seu ex-conselheiro de "tolo chato" e "cachorro doente".