Centenas de milhares de colombianos saíram às ruas ontem em mais de 400 pontos do país, num ambiente tenso pela presença de militares nas ruas. Sindicatos, estudantes, indígenas e opositores de todos os espectros políticos convocaram uma greve geral e marchas contra as políticas propostas pelo presidente conservador Iván Duque, uma mobilização geral que serve como termômetro para medir o desgaste de seu governo de um ano e meio.

Na capital, o esquadrão antidistúrbios jogou bombas de gás lacrimogêneo para tentar liberar o corredor de transporte público em um trecho da cidade. Os confrontos aconteceram também entre policiais e dezenas de manifestantes que se dirigiam ao aeroporto de El Dorado, em Bogotá. A polícia tentou dispersar a mobilização com jatos de água e granadas, e vários homens encapuzados contra-atacaram com pedras e coquetéis molotov.

A wiphala, símbolo dos povos andinos, era vista em vários pontos da capital, onde muitas lojas e escritórios decidiram não abrir as portas. Claudia López, prefeita eleita pela Aliança Verde, se uniu às marchas na central praça Bolívar, onde fica a sede do Congresso, a uma quadra do palácio presidencial.

“Estão matando nossos líderes sociais, nossa identidade cultural. Os povos indígenas estão em risco, e as reformas econômicas e trabalhistas do governo não favorecem o povo colombiano”, disse à Reuters Patricia Riaño, professora que participou da mobilização em Bogotá.

Em Cali, manifestantes queimaram pneus e vandalizaram 14 ônibus, fechando a principal via que cruza a região. A rede de metrô precisou ser interrompida na cidade, assim como em Barranquilla. Sete policiais ficaram feridos em um ataque em frente a uma universidade. Devido à destruição, o prefeito Maurice Armitage declarou toque de recolher em Cali às 19h de ontem.

“Notifico a todos os caleños que, diante dos eventos violentos que mancharam a greve nacional em vários pontos de nossa cidade, decidi implementar o toque de recolher a partir das 19h de hoje. Aqueles que estiverem fora a partir desta hora podem ser detidos pelas autoridades”, escreveu no Twitter.

O governo de Duque – que tem uma desaprovação de 69% – lançou nos últimos dias uma campanha agressiva com o slogan “A Colômbia não para”, e agentes policiais fizeram, na terça-feira, cerca de 30 incursões em Bogotá, Medellín e Cali, as principais cidades do país, que incluíram meios de comunicação e grupos artísticos e culturais.