Os mercados financeiros parecem ter se acostumado há algum tempo aos anúncios múltiplos e contraditórios de Donald Trump sobre as tarifas, e hoje o pânico provocado pela manifestação protecionista no início de abril parece ter ficado para trás.

A pergunta é "até quando será assim?". Enquanto o presidente americano anunciou no sábado a imposição, a partir de 1º de agosto, de tarifas de 30% sobre os produtos provenientes do México e da União Europeia importados para os Estados Unidos, as bolsas do Velho Continente recuavam apenas moderadamente nesta segunda-feira (14).

Estas “tarifas são tão altas quanto no início de abril”, mas “a reação dos mercados é completamente diferente”, assinalou Ipek Ozkardeskaya, analista do Swissquote Bank, em entrevista à AFP.

Em 4 de abril, após o anúncio de Donald Trump de uma série de "tarifas nunca recíprocas" direcionadas a quase todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos, as bolsas europeias e americanas perderam entre 4% e 6%, uma queda não vista desde o início da pandemia da covid-19 em 2020.

"Taco"

Apesar dos anúncios tarifários nos últimos dias, direcionados a mais de uma dezena de países e alguns produtos como o cobre, “os mercados parecem estar cada vez mais blindados”, resume Jim Reid, economista do Deutsche Bank.

Os índices americanos atingiram novos máximos históricos, enquanto as bolsas europeias estão atraindo novamente os investidores. O principal índice da Bolsa de Frankfurt, o Dax, subiu mais de 20% desde o início do ano.

Como explicar essa resiliência? Em primeiro lugar, os mercados têm experiência com as mudanças de direção de Trump. A implementação da maioria das tarifas foi adiada várias vezes, dando tempo para alcançar acordos comerciais com os países envolvidos.

A imprensa financeira até deu um nome a essas mudanças repetidas de direção, relativizando o risco para os investidores: o "TACO" (as siglas de "Trump Always Chickens Out", ou seja, "Trump sempre recua", NDR). Os investidores continuam apostando no TACO, confiantes de que as negociações se prolongarão”, opina Ipek Ozkardeskaya.

A ausência de uma resposta europeia nesta etapa também tranquilizou os mercados. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, até agora optou por manter um perfil discreto, com a esperança de obter um acordo que seja menos doloroso.

Por fim, os investidores consideraram que os anúncios tarifários de Donald Trump são “mais uma alavanca tática do que uma ameaça econômica imediata”, concorda Stephen Innes, da SPI Asset Management, em uma entrevista à AFP.

"Reagir violentamente"

“Os mercados esperam que as negociações continuem”, explica Alexandre Baradez, responsável pela análise de mercados na IG França. Mas essa complacência pode não durar muito. O prazo limite de 1º de agosto está aproximando-se. “Ao contrário dos prazos anteriores que foram adiados, isto parece realmente firme”, estima.

“Se as tarifas massivas forem realmente aplicadas em 1º de agosto, em pleno período de verão, os mercados podem reagir violentamente”, acrescenta Jim Reid, economista do Deutsche Bank. Os efeitos das tarifas já impostas pela administração Trump sobre a economia americana também estão sendo observados.

As tarifas, em todos os setores, têm uma média superior a 16% na entrada de produtos no território americano, em comparação com menos de 5% antes da eleição do republicano.

“Será necessário monitorar os próximos dados sobre o comportamento dos consumidores e os resultados das empresas, que fornecerão uma ideia das consequências dessa política na economia”, estima Alexandre Baradez.

Os mercados temem especialmente que as tarifas aumentam o risco de "estagflação", ou seja, uma desaceleração econômica combinada com um aumento da inflação, o que impede que a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) reduza as taxas para estimular a atividade.

A complacência dos mercados aumenta a distância entre a forma como os investidores querem ver a realidade e o que realmente será a realidade econômica”, adverte Ipek Ozkardeskaya.