O economista gaúcho Larry de Faria Júnior, 63, saiu do Brasil para trabalhar nos EUA no final dos anos 1990, feliz porque estava escapando da crescente criminalidade no país natal e rumando a uma nação que considerava mais segura. Em uma manhã de trabalho que prometia normalidade, porém, viveu o maior risco de sua vida no escritório, em Nova York, quando um avião com 92 pessoas se chocou com o prédio onde ele estava.
Larry é um dos sobreviventes do atentado ao World Trade Center, da multidão que trabalhava no complexo de prédios comerciais quando o choque dos aviões ocorreu. Outras 2.977 pessoas foram mortas naquele dia. Ainda hoje, 20 anos depois, o brasileiro descreve cenas do momento em detalhes e, como outros sobreviventes, diz que a vida mudou depois do episódio.
“Eu estava no 25º andar, e o prédio balançou como um pêndulo, tive a nítida impressão de que ele iria desabar. Virei para um colega e disse: ‘Isso vai cair, vamos embora’. Quando consegui sair do prédio, ainda não sabia que eram dois aviões”, conta. Ele relembra o semblante dos colegas enquanto desciam as escadas ordeiramente, assustados pelo imprevisto, mas sem noção do que de fato estava acontecendo alguns andares acima de suas cabeças.
Veja mais histórias de brasileiros no 11 de setembro:
Pai de vítima brasileira do 11 de setembro equilibra dor e alegria na memória
“O confinamento era como o corona”, diz testemunha mineira do 11 de setembro
Brasileira estava em hotel que ficou destruído após as torres no 11 de setembro
Sheikh de mesquita em BH era chamado de ‘Bin Laden’ nas ruas após 11 de setembro
“Enquanto eu estava descendo as escadas, um amigo me ligou e disse que um aviãozinho tinha batido no prédio, mas que não era atentado. Os bombeiros estavam subindo para ajudar quem estava lá em cima. Depois, na rua, uma amiga da minha esposa me ligou e contou que jogaram mais um avião no Pentágono, outro caiu na Pensilvânia. Ela disse: ‘Estão atacando os EUA, é guerra’. Nesse momento, eu fiquei apavorado”, detalha.
Não apenas Larry, mas a imprensa e os oficiais não entenderam imediatamente o que havia ocorrido: enquanto a Torre Norte pegava fogo, trabalhadores que tentavam descer da Torre Sul foram orientados pela segurança a retornar, para facilitar a evacuação do prédio vizinho. Foi assim que colegas de outra empresa em que Larry havia trabalhado, na Torre Sul, voltaram aos andares superiores do edifício, que foram atingidos em seguida pelo segundo avião. “Medo não é a palavra correta para minhas lembranças, mas tristeza. Perdi muitos amigos no atentado”.
O caminho para casa, que ficava do outro lado do rio Hudson, demorou dez horas naquele dia, enquanto Larry evitava as multidões com receio de mais ataques onde houvesse muitas pessoas. Sua mãe, ao telefone, custava a acreditar que ele estivesse mesmo bem, e não em um hospital, mentindo para tranquilizá-la.
Larry retornou ao Brasil naquele ano, para trabalhar em uma sede temporária da mesma empresa, mas logo voltou aos EUA, de onde só foi embora em outubro do ano passado. “Todos os que estavam em Nova York naquele dia são sobreviventes, mas, quando vou para outros lugares nos EUA e as pessoas descobrem que eu estava no World Trade Center, a maneira como sou recebido muda completamente. Até coisas eu ganho, pessoas dão uma cerveja extra, já fui aplaudido em um avião. É impressionante a força que a data tem na cabeça do americano comum”, diz.