Aos 80 anos, o médico Ivan Fairbanks Barbosa tem dificuldade para ouvir ao telefone, mas fala com absoluta clareza sobre suas memórias do dia 11 de setembro de 2001, quando perdeu o filho, também chamado Ivan, um dos quatro brasileiros que morreram no atentado.
Depois de falar com jornalistas durante duas décadas e recontar sua história repetidas vezes, hoje Ivan parece ter se reconciliado com a própria história e aceitar a combinação de alegria e dor que é se lembrar da morte do filho. “A lembrança da família é uma delícia, mas aquele negócio foi brutal. Não existe explicação na nossa cultura para o que foi aquilo. Tem muita gente que não tem muita ideia do que foi e muita gente que tem uma ideia romanceada”, diz.
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Sua última conversa com o filho foi um dia antes, quando o administrador de 30 anos contou que havia sido promovido na corretora de valores Cantor Fitzgerald, que ficava no 104º andar da Torre Norte.
“Ele ligou para falar que tinha ganhado um cargo mais pesado e estava até um pouco assustado. A gente tinha uma relação muito boa. Os amigos dele até hoje me dão notícia deles, todos hora estão dando um ‘oi’ por qualquer coisa”, relembra o pai. Após a morte do filho, ele diz que recebeu contatos para processar até a Boeing, fabricante do avião que atingiu a torre, mas considerou essa luta “uma estupidez”.
Outros 657 funcionários da empresa onde Ivan trabalhava morreram no atentado, inclusive a paulista Anne Marie Sallerin Ferreira. O Itamaraty confirmou a morte de três brasileiros no atentado, além de uma possível quarta vítima, cuja família não procurou o governo brasileiro.