Prejuízo

Por que conflitos no Mar Vermelho ameaçam o comércio global? Entenda

Nos últimos dias, 181 navios com diversas cargas desviaram do caminho original para evitar ataques dos rebeldes huthis do Iêmen; outros 26 navios decidiram parar a viagem

Por Alexandre Nascimento
Publicado em 05 de janeiro de 2024 | 06:00
 
 
 
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O lançamento nesta quinta-feira (4) de um drone carregado de explosivos pelos rebeldes huthis do Iêmen, que caiu em águas marítimas internacionais, aumentou a preocupação mundial com os ataques na região do Canal de Suez, no Egito. Esta é a principal rota comercial marítima entre a Europa e a Ásia, ligando o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo. Com o aumento do perigo, muitas empresas de transporte, como Hapag-Lloyd, MSC e Evergreen, decidiram mudar os caminhos de seus navios de carga. 

Esse foi o 25º ato criminoso contra embarcações comerciais na região desde 18 de novembro. Os huthis já prometeram atacar todos os navios que passarem por ali rumo a Israel, em resposta à operação israelense na Faixa de Gaza, iniciada em outubro do ano passado. Eles são solidários com a luta de libertação do povo palestino.

O problema é que 15% do comércio global passa pelo Mar Vermelho, de acordo com números da Organização das Nações Unidas (ONU). A project 44, plataforma de visibilidade para cadeias de suprimentos, revelou que 181 navios já desviaram da passagem do Canal de Suez contornando a África, com um aumento de sete a 20 dias no tempo de trânsito. 

“Alguns dos navios que estão desviando aumentaram suas velocidades para ajudar a mitigar atrasos. Isso se traduz em um uso maior de combustível – logo, os preços do transporte marítimo podem aumentar”, diz o relatório da project 44.

Outros 26 navios estão parados há dias, aguardando o fim do conflito. As transportadoras não confiam na segurança do Mar Vermelho e preferiram esperar, amargando fortes prejuízos. 

Uma das empresas que enviam embarcações pela rota, a Maersk chegou a retomar o transporte pelo Mar Vermelho, mas anunciou outra pausa após o ataque mais recente a um de seus navios. A gigante de petróleo BP também desistiu da rota.

Para reduzir os riscos de viajar pelo Mar Vermelho, uma coalizão formada em 18 de dezembro pelos Estados Unidos, Reino Unido, Barein, Canadá, França e Itália, entre outros países, foi lançada para proteger navios comerciais de ataques futuros e reduzir os impactos no comércio global. 

Os EUA chegaram a afundar três navios dos rebeldes houthi em resposta ao chamado de socorro de um navio da Maersk. Logo depois, o Irã enviou um navio de guerra para a área. Os ataques não estão cessando e há preocupações adicionais com a escalada devido à mobilização de um navio de guerra de um aliado houthi.

Apesar do alto risco, alguns navios estão seguindo sua programação conforme planejado. Na semana de 17 a 24 de dezembro, um total de 66 navios passaram pelo canal. 

Na semana de 24 a 31 de dezembro, 33 embarcações comerciais usaram a rota do Mar Vermelho. Houve uma queda de 55% no tráfego diário de navios, passando de uma média de quase 15 navios por dia antes dos ataques para uma média de 6 por dia na última semana de 2023.

Transporte de petróleo causa mais preocupação

Todos os tipos de cargas passam pelo Canal de Suez, mas a commodity mais preocupante que vem dessa região é o petróleo. Em 2022, o Oriente Médio exportou diariamente 15,4 milhões de barris de petróleo. 

“Por isso, à medida que o conflito persiste, prevê-se uma grande interrupção no fornecimento do produto. Apesar da tendência de afastamento dos combustíveis fósseis, o petróleo ainda é amplamente utilizado globalmente, e isso provavelmente causará um aumento nos preços nos postos de combustíveis”, cita o relatório da project 44. 

Histórico do comércio através do Canal de Suez

O Canal de Suez foi inaugurado em 1869 para conectar o Oceano Atlântico Norte ao Oceano Índico através do Mar Mediterrâneo e do Mar Vermelho. Desde então, tornou-se uma rota comercial essencial para as cadeias de suprimentos globais. 

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