CONFLITO

Primeiro navio com ajuda humanitária pronto para zarpar rumo a Gaza

A ONU adverte que 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza estão à beira da fome, principalmente no norte

Por Agências
Publicado em 09 de março de 2024 | 17:32
 
 
 
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Um primeiro navio carregado com ajuda humanitária está pronto para zarpar de Chipre para Gaza, um território palestino assolado pela fome e bombardeado incessantemente por Israel, em um momento em que as esperanças de um cessar-fogo com o Hamas antes do Ramadã estão diminuindo.

Israel acusou neste sábado (9) o movimento islamista palestino Hamas de não estar "interessado em um acordo" e de querer "incendiar a região durante o ramadã", o mês sagrado dos muçulmanos que começa no domingo ou na segunda-feira, dependendo do calendário lunar.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, informou em comunicado que o chefe do Mossad, a agência de inteligência externa israelense, se reuniu na sexta-feira com o diretor da CIA, a agência de inteligência dos EUA, como parte dos esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza.

A situação humanitária no estreito e sitiado território, governado pelo Hamas desde 2007, piora a cada dia.

Diante da escassez de ajuda, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou na sexta-feira a abertura de um corredor marítimo que permitirá o transporte de ajuda de Chipre para Gaza a partir de domingo.

Duas ONGs estão se preparando atualmente para que um primeiro navio possa zarpar do porto de Lárnaca, no sul da ilha mediterrânea, com 200 toneladas de comida a bordo para percorrer um trajeto de 370 km.

"Tudo estará pronto hoje para que possamos partir", disse neste sábado à AFP Laura Lanuza, porta-voz da ONG espanhola Open Arms, que trabalha neste projeto em conjunto com a ONG americana World Central Kitchen (WCK), fundada pelo chef espanhol José Andrés.

As autoridades israelenses, que autorizaram a operação, estão inspecionando a carga, disse ela. A WCK, por sua vez, "já tem pessoas em Gaza" e está "construindo um cais" para poder descarregar a ajuda no território bombardeado, acrescentou a porta-voz da ONG.

À beira da fome

O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou esta semana a construção de um "cais temporário" no território palestino, que, segundo o Pentágono, poderá "fornecer mais de dois milhões de refeições diárias para os cidadãos de Gaza".

A construção levará até 60 dias e exigirá a ajuda de mais de 1.000 soldados, acrescentou o Departamento de Defesa.

A ONU, que insiste que as entregas por ar ou mar não podem substituir as terrestres, adverte que 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza estão à beira da fome, principalmente no norte.

O conflito eclodiu após o ataque do Hamas em 7 de outubro, durante o qual seus combatentes mataram cerca de 1.160 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em números oficiais.

Além disso, cerca de 250 pessoas foram sequestradas. Israel afirma que 130 ainda estão retidas em Gaza, das quais 31 estariam mortas.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva que já matou pelo menos 30.960 pessoas em Gaza, segundo autoridades do movimento islamista, considerado como uma "organização terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Israel impôs um cerco "total" a Gaza desde 9 de outubro, permitindo apenas a entrada limitada de ajuda do Egito.

A desastrosa situação humanitária levou vários países a lançar ajuda pelo ar.

Mas um desses lançamentos deixou cinco mortos e dez feridos na sexta-feira, segundo uma fonte hospitalar. Jordânia, Estados Unidos, França, Bélgica e Países Baixos negaram estar envolvidos no acidente.

Por outro lado, Suécia e Canadá anunciaram neste sábado que retomarão seu financiamento à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), mais de um mês depois de suspenderem sua ajuda junto com outros 15 países.

A UNRWA esteve no centro das atenções desde que Israel acusou em janeiro 12 de seus funcionários de estarem envolvidos no ataque a seu território em 7 de outubro.

"Somos apenas cidadãos exaustos"

Pelo menos 23 civis morreram de desnutrição e desidratação, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que ofereceu um novo balanço após a morte de mais três crianças.

O ministério também afirmou que 70 corpos foram levados para hospitais após ataques noturnos israelenses.

O Exército israelense indicou, por sua vez, que realizou ataques seletivos na véspera e matou mais de 20 combatentes na região de Khan Yunis, no sul.

"Queremos uma solução para acabar com a guerra", declarou Atalah al Satel em Rafah, no extremo sul de Gaza, para onde se deslocou deslocado de Khan Yunis. "Somos apenas cidadãos exaustos [...] O que temos a ver com tudo isso?", perguntou.

Os mediadores no conflito --Estados Unidos, Catar e Egito-- tentaram esta semana chegar a um acordo para um cessar-fogo antes do início do ramadã no Cairo.

No entanto, Biden reconheceu na sexta-feira que "parece difícil" alcançá-lo dentro deste prazo.

Segundo um líder palestino, Israel não quer cumprir as "exigências mínimas" do Hamas, que não aceitará uma troca de reféns e prisioneiros sem a retirada das forças israelenses de Gaza. (AFP)

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