O conflito entre Israel e Hamas deixa, desde sábado (7), um rastro de destruição e morte, tanto para o lado israelense quanto para o lado palestino. Os atentados que atingem não apenas soldados mas também civis escalam de forma tão potente que a ajuda humanitária nessas localidades enfrenta problemas. Mais que isso, a ajuda humanitária é diretamente ameaçada.
Nesta quarta-feira (11), a Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou a morte de ao menos 11 voluntários durante a guerra. Na Cruz Vermelha, foram cinco vidas perdidas. Eram pessoas que estavam ali, na contramão da violência, para prestar atos solidários.
De acordo com vice-diretora de assuntos da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) em Gaza, Jennifer Austin, entre os 11 funcionários mortos, estavam cinco professores nas escolas da UNRWA, um ginecologista, um engenheiro, um conselheiro psicológico e três funcionários de apoio. “Alguns foram mortos em suas casas com suas famílias”, disse.
Além disso, também morreram 30 estudantes de centros educacionais administrados pela agência e outros oito ficaram feridos. Em entrevista à rede canadense CBC News, a diretora de comunicação da UNRWA, Juliette Touma, disse que há, atualmente, 13 mil voluntários no local e muitos deles tiveram que sair de casa ou tiveram suas residências destruídas.
Tratam-se de médicos, enfermeiros, professores, trabalhadores do saneamento, motoristas, farmacêuticos, entre outros. “Esses colegas são nossos heróis anônimos”, disse. Ainda segundo a UNRWA, a agência precisa de 104 milhões de dólares para permitir a resposta humanitária durante os próximos 90 dias.
Eles enfrentam uma crise financeira debilitante e o financiamento atual é suficiente apenas para continuar os serviços regulares em toda a região até o fim de outubro. Um balanço da UNRWA mostra que quase 175 mil pessoas estão abrigadas em 88 escolas da agência em toda a Faixa de Gaza. Em toda a Faixa de Gaza, a UNRWA presta serviços a 1,4 milhões de refugiados palestinos, incluindo ajuda alimentar a quase 1,2 milhões.
Hospitais atacados
A ajuda humanitária dos Médicos Sem Fronteiras também é ameaçada. Segundo relato do coordenador de Projeto do Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Palestina, Léo Cans, publicado no site do MSF, nem mesmo as instalações médicas foram poupadas dos ataques. “Um dos hospitais que apoiamos foi atingido por um ataque aéreo e ficou danificado”, contou.
“Outro ataque aéreo destruiu uma ambulância que transportava os feridos, bem em frente ao hospital onde trabalhamos”, disse. “A equipe de MSF, que estava operando um paciente, teve que deixar o hospital às pressas”, completa. “As instalações médicas devem ser respeitadas. Isso não é algo que deva ser negociado”, protesta.
Atualmente, o MSF está doando medicamentos essenciais e equipamentos médicos para os principais hospitais da Faixa de Gaza, além disso, está ainda enviando equipes cirúrgicas a dois hospitais para ajudar a tratar os feridos. Mas a situação, segundo o médico, é tensa.
“Na segunda de manhã, recebemos um menino de 13 anos cujo corpo estava quase completamente queimado depois que uma bomba caiu bem perto de sua casa, iniciando um incêndio. Esses são casos muito complicados de tratar nessas condições e, quando há crianças envolvidas, é muito difícil de suportar”, declara Léo Cans.
Cruz Vermelha
Também nesta quarta-feira, a Cruz Vermelha Internacional informou que duas ambulâncias foram atacadas, resultando na morte de cinco pessoas, entre elas, quatro paramédicos. "A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) está arrasada ao confirmar a morte de cinco membros da nossa rede devido às hostilidades armadas em Israel e na Faixa de Gaza", informou o grupo humanitário em um comunicado.
Em depoimento publicado no site da Cruz Vermelha, a presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, lembra que “o assassinato de civis e os maus-tratos são proibidos pelas Convenções de Genebra. Além disso, estabelecem que as pessoas feridas ou doentes devem receber assistência”. “A tomada de reféns é proibida pelo Direito Internacional Humanitário e os reféns devem ser liberados ilesos imediatamente”, diz.