A tecnologia mudou a forma como vivemos, pensamos e agimos. Hoje, as telas oferecem acesso a uma vasta gama de recursos educacionais, como vídeos, cursos on-line e materiais interativos, que podem enriquecer a aprendizagem. Também oferecem flexibilidade à aprendizagem, que agora pode ser on-line e, assim, torna-se mais acessível a um número maior de pessoas, assim como ajudam no desenvolvimento de habilidades digitais essenciais para o mercado de trabalho e possibilitam a conexão virtual entre pessoas de diversos lugares do mundo. Todas essas possibilidades tomaram um grande espaço nas nossas vidas.
Nunca se discutiu tanto o uso das telas por crianças e jovens como ultimamente. É evidente já que apenas recentemente estudos começaram a mostrar os resultados de décadas de uso indiscriminado de telas por crianças e adolescentes.
Para entendermos esse fenômeno, é preciso compreender a evolução da tecnologia. Um marco relevante foi a chegada dos smartphones em 2012 que mudou a realidade dos usuários e, a partir daí, percebe-se um declínio da saúde mental de meninas e meninos, deixando claro que as meninas eram e ainda são mais afetadas pelas redes sociais do que os meninos. Em 2015 já foi possível constatar que adolescentes passavam em média 9 horas por dia em telas, e em 2022 esses números aumentaram.
Além do declínio da saúde mental, existem outras consequências do uso excessivo de telas. Os prejuízos afetam diversas dimensões do ser humano, como a social, a intelectual, a física e a emocional.
Socialmente, crianças, jovens e até mesmo adultos passaram a interagir menos e ficaram mais distantes física e emocionalmente das pessoas, gerando ansiedade em níveis alarmantes.
Além da ansiedade, o isolamento e o sentimento de solidão podem ter como consequência a depressão. Nunca vimos nem ouvimos falar de tantos casos de depressão e ansiedade em crianças e adolescentes como nos últimos anos.
Sem dúvida, as telas mudaram os padrões de comportamento da sociedade. Hoje, são comuns cenas como uma família almoçando “junta”, mas cada um conectado em seu smarthphone ou estudantes lado a lado durante o intervalo, mas cada um conectado em seu mundo. A socialização foi drasticamente reduzida.
Intelectualmente, os impactos do uso excessivo de telas são igualmente alarmantes. As telas são, sem dúvida, um fator de distração. Sem concentração e atenção sustentada, a compreensão leitora e a aprendizagem ficam comprometidas.
Além do foco atencional, observou-se que o uso excessivo de telas vem prejudicando a memória e até o QI das crianças e jovens. Isso acontece pela falta de incentivo a atividades que necessitam de pensamento rápido e de outras habilidades que contribuem para o funcionamento ativo do cérebro. O esforço de pensar e refletir não é mais necessário.
Os efeitos do uso excessivo de telas são percebidos também fisicamente. A fadiga ocular, o sedentarismo, os distúrbios do sono e as dores de cabeça são alguns dos sintomas observados na população.
Diante de tantos fatores preocupantes, a tecnologia não é o problema e sim, como educamos nossa sociedade para utilizá-la. Assim, a restrição do uso de celulares nas escolas parece um primeiro passo coletivo na direção certa para que nossos estudantes voltem a trocar experiências, aprender a conviver, resolver conflitos. Será necessária uma nova mudança de padrão de comportamento de toda a sociedade no sentido de ensinar novamente a conviver, a brincar, a conversar e a interagir socialmente.
(*) Cristina Harich é diretora educacional da Magia de Ler, editora responsável pela publicação dos jornais Joca e Tino Econômico