Wilson Campos

Wilson Campos

Advogado, especialista com atuação nas áreas de direito tributário, trabalhista, cível e ambiental

OPINIÃO

De um lado, luxúria abjeta; de outro, flagelo social

Madonna não cantou nem respeitou seus fãs

Por Wilson Campos
Publicado em 09 de maio de 2024 | 07:17
 
 
 
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A praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, serviu para exibição de um show de horrores, de simulação de sexo oral e de estrelismo barato de uma Madonna apelativa, mal-educada, desbocada e vulgar. Causa-me engulhos imaginar as cenas deploráveis de uma senhora idosa se contorcendo no palco e tentando passar a falsa ideia de um orgasmo natural.

Não bastassem as provocações da sexagenária beijando uma mulher seminua, cuspindo numa plateia embriagada de estupidez e abusando da pirotecnia teatral, Madonna não cantou nem respeitou seus fãs de várias idades, mas simplesmente fez playback e exibiu imagens de comunistas no telão, transformando o que já era péssimo em algo muito pior e indeglutível.

Diante de supostas 1,6 milhão de pessoas absortas e perante políticos inescrupulosos, repercutiu uma festa promíscua em detrimento do sofrimento da população do Rio Grande do Sul, que enfrenta uma tragédia sem precedentes, enchentes e temporais nunca antes vistos, mortes e desaparecimentos, dor e desolação.

Mas nada disso sensibilizou os alienados seguidores da promíscua idolatria, que preferiram a esbórnia e a devassidão do “show” a acudir, a ajudar, a rezar ou a socorrer os irmãos gaúchos numa hora de extremo desespero.

De um lado, luxúria abjeta. De outro, flagelo social. Enquanto uns se jogam submissos aos prazeres de conviver por algumas horas com uma Madonna desrespeitosa, inclusive na presença de crianças, outros se solidarizam com o povo do Rio Grande e se oferecem como voluntários no resgate de pessoas ilhadas e isoladas, cedem barcos e helicópteros para salvar vidas e fazem doações anônimas. Enquanto uns se comportam como bestas-feras e aplaudem a degradação e a imoralidade, outros se arriscam na defesa de seres humanos e nada exigem em troca, nem reconhecimento, nem retribuição.

O cenário de guerra com danos materiais incalculáveis e perdas de vidas impagáveis não constrangeu os políticos e artistas que assistiram ao espetáculo dantesco de Madonna. Eles não dirigiram nenhuma palavra às famílias dos atingidos pela tragédia.

Não deram a menor importância às quase 164 mil pessoas desalojadas e mais de 67 mil em abrigos. Não se sensibilizaram minimamente com os 425 municípios atingidos ou com os 100 mortos, 374 feridos e 130 desaparecidos.

Dizem que Madonna levou fãs ao delírio no Rio de Janeiro com o maior show de sua carreira. Mas dizem também que ela é autoritária, mandona e cobrou caro para se exibir (ainda que por meio de playback): cachê de R$ 17 milhões. Ao todo, o “show” custou R$ 59 milhões, sendo que o governo do Rio investiu R$ 10 milhões, a Prefeitura do Rio, outros R$ 10 milhões, e o restante, por conta de patrocinadores privados.

De um lado, um show de horrores com dinheiro público. De outro, três em cada quatro cidades do Rio Grande do Sul foram arrasadas pelas enchentes, que já afetam em torno de 1,5 milhão de pessoas, comprovando que o poder público está cada vez mais ausente e incapaz.

* Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG, de 2013 a 2021/Delegado de prerrogativas da OAB-MG, de 2019 a 2021.

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