Após quatro anos de um governo que se proclamou defensor de clubes de tiros em detrimento de bibliotecas, pensamos que no governo atual as editoras independentes – as pequenas e médias casas editoriais que não são multinacionais, nem ligadas a bancos ou grandes holdings – veriam novas perspectivas negociais. 

A realidade pós-pandêmica tem sido cruel. O preço do papel duplicou graças ao aumento da demanda por embalagens descartáveis, o varejo entrou em crise, os leitores voltaram aos bares e as políticas públicas estagnaram. 

O governo federal apresenta morosidade inédita nos editais destinados à aquisição de livros literários para as crianças e jovens do país, notadamente os Planos Nacionais do Livro Didático (PNLDs) Literários 2022, 2023 e 2024. A morosidade afeta os editores e impacta toda a cadeia/rede produtiva do livro e atinge, diretamente, o público infantil e jovem que estuda em instituições sob a pasta da Educação. 

Vejam: o edital do PNLD Literário 2022, publicado em 21 de maio de 2020, não teve ainda contratos assinados, embora negociados em junho passado. Os PNLDs 2023 e 2024, não tiveram, ainda, definidas as datas de escolha das obras literárias por parte das escolas e outros destinatários. Portanto, três edições atrasadas, com investimentos nossos defasados e sem retorno concreto . Isso, inclusive, resultou na inexistência do PNLD Literário 2025. No entanto, já anunciado o edital do PNLD 2026, a exigir novo investimento por parte das editoras. 

Em paralelo, muitas compras municipais também estão paralisadas, como o Programa Minha Biblioteca, da cidade de São Paulo, que sequer divulgou lista de livros selecionados para o processo seletivo iniciado no fim de 2023. A cidade do Rio de Janeiro, capital mundial do livro em 2025, há anos não abre editais para a compra de acervo para escolas e bibliotecas. 

Há honrosas exceções, mas justamente aquelas que comprovam que a ideia de país leitor continua passando muito, muito longe de uma política pública consistente. 

A Liga Brasileira de Editoras é uma associação de mais de 200 pequenos negócios editoriais espalhados pelo Brasil. São as nossas editoras, em geral, as que descobrem autores e autoras brasileiras novas ou resgatam autorias esquecidas. São as que se preocupam com recortes da população à margem dos catálogos de grandes editoras do trade. São as que levam para as páginas dos livros as vozes da diversidade brasileira.

Os atrasos nos processos de compras colocam o setor em risco, em especial as pequenas e médias casas editoriais (mesmo as editoras de didáticos, muitas delas multinacionais, estão se ressentindo, então imaginem as independentes). Preocupa-nos a falta de sinalização quanto ao futuro. As ações em prol do país leitor que queremos não podem parar. 

É preciso pensar no livro e na leitura como eixos estruturantes da política cultural e educacional do país. Enquanto construímos o PNLE, há programas e projetos que podem continuar fomentando o setor. A descida está vertiginosa. Algo precisa ser feito antes que o trem descarrile de vez. 

(*) Lizandra Magon de Almeida é presidente da Liga Brasileira
de Editoras (Libre)