As queimadas, na maioria das vezes, são criminosas. Essa origem não mudou, mas os efeitos que o fogo provoca diante das mudanças climáticas que o mundo vivencia são cada vez mais severos. As cenas que temos visto no Brasil, seja em São Paulo, na Amazônia ou mesmo ao redor de grandes cidades, como Belo Horizonte, só fazem aumentar a urgência mundial pela transição energética.

É preciso trocar, com o mundo em movimento, a emissão de gases de efeito estufa (GEE) pelas energias renováveis. Sem essa transição, o rastro de prejuízos e de vidas perdidas no Brasil, animais e seres humanos mortos pelo fogo de hoje e pelas águas do primeiro semestre, no Sul, ficará minúsculo diante da prevista catástrofe mundial das próximas décadas. Como a troca pelas energias renováveis não é automática, a solução agora é apagar o incêndio, literalmente.

Quem trabalha com o meio ambiente tem um olhar ainda mais preocupante para esse cenário. O fogo que temos visto não arrasa apenas o agronegócio, para ficar somente num dos prejuízos materiais. Ele é consequência de uma seca cada ano mais intensa, tornando o ar que respiramos altamente prejudicial à saúde. Quem tem bebês ou idosos em casa sente mais claramente esses efeitos. Porém, a saúde de todos nós é afetada, sem que possamos perceber.

As mudanças climáticas, fruto da ação humana contra o ecossistema ao longo dos tempos, provocam os extremos da falta e do excesso de chuva. No caso do fogo, os cursos d’água são afetados, o solo perde qualidade, os alimentos ficam escassos, mais caros e menos saudáveis. Como resultado, a economia mundial é abalada e o círculo vicioso está ativado. Esse caos, porem, escancara enorme oportunidade para o Brasil.

Nosso país possui riquezas minerais em abundância para atender a crescente demanda mundial pelos minerais críticos, fundamentais para a transição energética. Aproveitar esse momento é o que a indústria mineral procura fazer. O setor está cada vez mais empenhado em duas frentes: produzir de forma sustentável e avançar na oferta do cobre, lítio, nióbio, terras raras e tantos outros minerais imprescindíveis para a evolução tecnológica que encaminha a transição energética.

Dessa forma, a despeito das tragédias de Mariana e Brumadinho, com perdas humanas irreparáveis e desastres naturais ainda sentidos, passa pela mineração o caminho para enfrentamento das mudanças climáticas que já provocam estrago. O que o Brasil precisa assumir é a tarefa de compatibilizar sua riqueza mineral estratégica para a transição energética com um cenário mais atraente para investimentos no setor.

Ainda temos entraves institucionais a ser superados e isso começa pelo governo. Mas a responsabilidade é da sociedade, afinal não precisamos de novas demonstrações de como as mudanças climáticas podem nos atingir. Em casa, no trabalho, nas ruas, cada um de nós tem obrigação de fazer sua parte.

Desenvolvimento sustentável, que há muito deixou de ser mera retórica, agora é o único caminho para o mundo.

(*) Fabiano Silva é doutor em ecologia, mestre em biologia e diretor da Tema Ambiental