-"Não doutor, não penso em tirar minha vida. Mas peço a Deus que me leve..."

Em tempos de epidemia de depressão, angústia, crises, pessimismo, enfim, o mundo em convulsão, notícias caóticas a cada minuto, problemas em cada esquina, tornou-se frequente ouvir de pacientes essa frase terrível!

Viver é uma dádiva ou uma cruz a ser carregada décadas e décadas?!

Algumas pessoas morrem de medo de morrer. Adorariam que o gene do envelhecimento fosse isolado e pudesse existir 300, 400 anos (haja botox, plástica, academia e reeleição Sarney, Color e cia...). Mas outras mal dão conta de acordar e esperar o longo e tenebroso tempo que o dia leva para passar e poder dormir, dopar, querer nunca mais despertar. Estão presas no tempo e no espaço condenados a uma tortura interminável com uma angústia que sufoca o peito, com turbilhões de pensamentos ruins e negativos em que predominam as culpas, a baixa autoestima, a sensação de inadequação, que nada tem graça, tem cor, onde o prazer e a alegria inexistem e quando veem pela janela não conseguem entender que um gari, um operário, um cidadão qualquer esteja vivendo tranquilamente seu dia a dia.

Tudo é muito rápido para quem está bem, adora balada, faz "sexo animal", toma todas, joga conversa fora.

Mas o tempo do deprimido é lento sofrido, arrastado, torturante, recusa-se a passar. Assim como a dor no peito, os pensamentos terríveis, o medo de enfrentar a vida.

Realidade é algo interno, pessoal, cada um tem a sua. Cada um colore o mundo como as cores que suas emoções fornecem.

A alegria tem as cores do arco-íris; a tristeza tem a cor escura da noite. Entende-se a dificuldade de compreensão daqueles que "amam viver" dos que "pedem a morte". Habitam o mesmo mundo, mas pertencem a universos paralelos que, muitas vezes, são incompreensíveis mutuamente.

A alegria e a tristeza são extremos de uma realidade única e complexa e que, em alguns casos, jamais serão alcançados por algumas pessoas. Outras oscilarão entre os extremos, e muitas frequentarão mais a uma vivência que a outra.

Afinal, somos humanos e, assim, ao ganharmos uma fantástica e improvável corrida em que 250.000.000 de espermatozoides superaram incontáveis obstáculos e se fundiram a uma entre as poucas centenas de óvulos que uma mulher amadurece na sua vida fértil, realmente somos todos vencedores!

O prêmio?! A vida!

O que fazer com ela? Bem, no meu caso, penso que quando pinta um desânimo, quando me frustro com algo, quando questiono a pobreza de espírito e imperfeição de nós, seres humanos, ou ainda quando lido com as milhares de pessoas que atendi, atendo, atenderei, com as palestras que ministrei ou ministrarei, quando publico um livro, escrevo colunas, faço programas de rádio, enfim, procuro repassar minhas experiências, sofrimentos, questionamentos, observações, penso e reflito: a vida vale a pena!

Se "pena" significar penalização, penalidade, que eu seja digno e cumpra os 64, 58 ou 75 anos da minha "prisão no tempo e espaço".

Se for dádiva, que eu agradeça enquanto viva!