Nina Desgranges
Pesquisadora do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio)

O debate sobre a regulação do trabalho em plataformas digitais no Brasil tem ganhado força com a iminente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o futuro dos trabalhadores de aplicativos. A necessidade de uma legislação que garanta direitos trabalhistas a essas pessoas é uma questão complexa: qual é o modelo ideal para equilibrar inovação tecnológica e proteção dos direitos sociais?

A dificuldade central da discussão reside na diversidade do trabalho digital e, embora essas pessoas compartilhem a mesma plataforma, suas realidades são distintas. Para uns, elas representam a principal fonte de renda, enquanto para outros, são uma ocupação complementar. Essa diferença exige uma abordagem regulatória flexível, que leve em consideração as nuances da profissão, sem comprometer as garantias dos trabalhadores.

A complexidade da regulamentação do trabalho nas plataformas digitais é ainda maior devido à diversidade de modelos de negócios e tipos de trabalhadores envolvidos. Não são apenas motoristas e entregadores, mas também profissionais como professores, diaristas e outros, com perfis de trabalho distintos. Cada categoria enfrenta desafios específicos, o que torna difícil criar uma legislação única que atenda a todos de forma eficaz, sem sobrecarregar as plataformas ou prejudicar os próprios trabalhadores. O diálogo multissetorial e a análise detalhada das necessidades de cada grupo são essenciais.

Há cerca de 2,1 milhões de trabalhadores de apps no país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o PL 12/2024 proposto busca, ao mesmo tempo, assegurar uma rede de proteção para eles e evitar a impactar o lucro das empresas, que têm como característica a flexibilidade e a inovação. Contudo, a dificuldade em encontrar uma solução que não prejudique nem os trabalhadores nem as plataformas está em jogo. Com a crescente presença da tecnologia no mercado de trabalho, a regulamentação deve refletir não apenas as necessidades atuais, mas também as perspectivas de evolução nas relações de trabalhistas.

Esse debate também chama a atenção para a sustentabilidade econômica das plataformas. As empresas de tecnologia podem ser desafiadas a se adaptar a novas obrigações, como oferecer benefícios, garantias e salários mais adequados aos motoristas. Além disso, o modo como a legislação brasileira tratará o trabalho por aplicativos poderá influenciar as estratégias das plataformas em relação aos seus funcionários.

Em resumo, a decisão sobre a regulamentação do trabalho digital no Brasil não é apenas uma questão de ajustar direitos trabalhistas, mas de entender e atender às necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras do século XXI. Encontrar um modelo que harmonize tecnologia, inovação e justiça social será uma tarefa desafiadora. O futuro do trabalho digital depende dessa reflexão equilibrada, e o país tem a oportunidade de se tornar um líder na regulamentação do trabalho em plataformas digitais